Terça, 31 Março 2020 10:45

Veja líderes estrangeiros que relutaram em apoiar isolamento social contra coronavírus, mas que muda

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Americano Trump, italiano Conte, mexicano López Obrador e russo Putin acabaram mudando o tom e defendendo que população fique em casa. Bolsonaro e nicaraguense Ortega seguem sem apoiar o isolamento geral.

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro insiste em defender isolamento social apenas para idosos e grupos de risco, priorizando a reativação econômica em meio à pandemia de coronavírus, outros líderes internacionais que inicialmente relutaram em apoiar um amplo movimento de quarentena mudaram seu posicionamento e passaram a pregar mais medidas para conter a aceleração exponencial da propagação da Covid-19. Veja abaixo:

Estados Unidos

O caso mais emblemático é o do mandatário americano Donald Trump. No fim de janeiro, quando o primeiro caso foi registrado nos Estados Unidos, ele disse não estar preocupado. “Trata-se de uma pessoa que chegou da China e temos tudo sob controle. Tudo vai ficar bem”, minimizou.

 Presidente Donald Trump — Foto: Reuters/Al Drago

Presidente Donald Trump — Foto: Reuters/Al Drago

 

Trump também não via a necessidade de colocar em prática medidas de isolamento, que são indicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como fundamentais para que os governos tenham tempo de preparar o sistema de saúde.

Em 9 de março, o líder americano afirmou no Twitter que 37 mil americanos tinham morrido em decorrência de gripe comum em 2019. “Em média [a gripe comum mata] entre 27 mil e 70 mil por ano. Nada é fechado, a vida e a economia continuam. Neste momento, existem 546 casos confirmados de coronavírus, com 22 mortes. Pense nisso!”, escreveu

No dia 24 março, em entrevista coletiva na Casa Branca, Trump afirmou que gostaria de colocar fim às medidas de isolamento até a Páscoa para reativar a economia. A declaração do chefe de estado foi muito criticada, pois nesse momento os Estados Unidos já caminhavam para ser o país maior número de casos da doença no mundo.

Trump, então, voltou a público para sinalizar que não deve se precipitar para pôr fim às medidas de isolamento, que devem seguir em vigor até 30 de abril. "Não vou fazer nada precipitado ou apressado. Eu não faço isso."

Ele mudou de opinião após consultar especialistas em saúde pública, que alertaram que tentar um retorno à vida normal muito cedo poderia permitir a propagação do vírus, aumentando o número de mortes nos EUA.

 
"Estou preparado para fazer o que for necessário para salvar vidas e fazer nossa economia voltar a ser forte exatamente como era antes."

ItáliaPrimeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, fala sobre a disseminação do coronavírus, em entrevista coletiva em Roma, na Itália, em 11 de março de 2020  — Foto: Remo Casilli/ Reuters

Primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, fala sobre a disseminação do coronavírus, em entrevista coletiva em Roma, na Itália, em 11 de março de 2020 — Foto: Remo Casilli/ Reuters

O governo italiano relutou em adotar medidas de isolamento para todo o país, que é o mais atingido pela Covid-19 na Europa. Na falta de ações centralizadas em Roma, prefeitos e governadores italianos tomaram localmente atitudes para tentar conter o surto.

Decretos e regras mais restritivas impostas pelas regiões chegaram a ser anuladas pelo governo italiano.

Em 24 de fevereiro, o primeiro-ministro Giuseppe Conte suspendeu um decreto assinado pelo governador de Marche, região que até aquele momento não registrava casos de coronavírus, que previa o fechamento de escolas e a proibição de aglomerações.

O fechamento de bares e restaurantes da Lombardia, determinada pelo governador Attilio Fontana, também foi anulada pelo governo central de Roma.

O premiê italiano argumentou que este tipo de ação descentralizada “contribuía para gerar o caos”.

O ministro de relações exteriores, Luigi di Maio, culpou uma “cobertura exagerada da mídia” pela redução de voos com destino ou partindo do país. Nessa época, o prefeito de Milão também compartilhou a propaganda “Milão não para” para incentivar a manutenção da atividade econômica.

 

Face ao avanço da epidemia, o premiê Conte anunciou, em 8 de março, medidas de restrição de isolamento para a região da Lombardia e o norte do país. No dia seguinte, as restrições de deslocamento foram ampliadas para todo o território italiano, atingindo 60 milhões de pessoas.

"Todos devemos desistir de algo pelo bem da Itália. Temos que fazer isso agora, e só poderemos se colaborarmos e nos adaptarmos a essas medidas mais rigorosas. Foi por isso que decidi adotar medidas ainda mais severas para conter o avanço e proteger a saúde de todos os cidadãos”, declarou Conte em pronunciamento em cadeia nacional de TV.

MéxicoAndres Manuel Lopez Obrador, presidente do México, em imagem de arquivo — Foto: Henry Romero/Reuters

Andres Manuel Lopez Obrador, presidente do México, em imagem de arquivo — Foto: Henry Romero/Reuters

Embora o México tenha registrado os primeiros casos de Covid-19 ainda em 28 de fevereiro, o presidente Andrés Manuel López Obrador continuou a sair nas ruas e postar imagens em que cumprimenta populares.

“Os mexicanos por nossa cultura somos resistentes a todas s calamidades e nessa ocasião vamos sair na frente. Nosso povo é possuidor e herdeiro de culturas milenares, de grandes civilizações daí deriva nossa força”, firmou, dando a entender que o povo mexicano resistiria à ação do coronavírus. Continuem levando suas famílias para comer fora. Isso é fortalecer a economia nacional, a economia popular", declarou.
 
 

“Os mexicanos por nossa cultura somos resistentes a todas as calamidades e nessa ocasião vamos sair na frente. Nosso povo é possuidor e herdeiro de culturas milenares, de grandes civilizações daí deriva nossa força”, afirmou, dando a entender que o povo mexicano resistiria à ação do coronavírus.

Na sexta-feira (27), Obrador mudou de posicionamento e fez um apelo para que os cidadãos fiquem em casa:

“Precisamos ficar em nossas casas, precisamos manter uma distância saudável. É melhor prevenir do que lamentar”, disse López Obrador em um vídeo de 14 minutos, alertando que o sistema de saúde pode não ser capaz de lidar com um surto intenso.

RússiaVladimir Putin fala com deputados no Congresso, em imagem de arquivo — Foto: Evgenia Novozhenina/Reuters

Vladimir Putin fala com deputados no Congresso, em imagem de arquivo — Foto: Evgenia Novozhenina/Reuters

 

No fim de janeiro, quando a epidemia de Covid-19 começava a se espalhar pelo mundo, o presidente russo, Vladimir Putin, fechou 4.250 km de fronteiras com a vizinha China em uma tentativa de conter a entrada do novo coronavírus em seu território.

Em meados de março, embora reconhecesse os riscos, o presidente ainda afirmava que a epidemia “estava sob controle” e não falava sobre imposição de regras de confinamento.

"Conseguimos conter a penetração em massa e a disseminação da pandemia. A situação em geral está sob controle, apesar do alto nível de risco", disse o presidente russo em uma reunião do governo.

Nos últimos dias, porém, o governo russo endureceu as medidas contra a pandemia. Ele determinou o fechamento de todas as lojas, com exceção dos comércios de alimento e das farmácias, e anunciou licença remunerada a todos na Rússia por uma semana a partir de 28 de março. Todos os voos internacionais estão suspensos.

"Estas são medidas forçadas, são temporárias e forçadas. Mas serão mais curtas quanto mais eficientes forem, e francamente, quanto mais duras forem. Depois este período será reduzido", disse presidente russo.

Nesta segunda-feira, Moscou viveu o primeiro dia de vigência de isolamento por tempo indeterminado. O primeiro-ministro, Mikhail Mishustin, já pediu aos habitantes das outras regiões do país que também se preparem para implementar o confinamento, no momento em que o país registra 1.534 casos de contágio e oito mortes.

NicaráguaPresidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em imagem de arquivo — Foto: Marvin Recinos/AFP

Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em imagem de arquivo — Foto: Marvin Recinos/AFP

 

Um líder que ainda não mostrou ter mudado de ideia com relação ao perigo da pandemia de Covid-19 é o presidente da Nicarágua, o sandinista Daniel Ortega. Ele chegou a chamar uma manifestação popular, contrariando a recomendação da OMS para que se evitem aglomerações.

Milhares participaram da marcha em Manágua que foi apelidada de “Amor nos Tempos de Covid-19”, em uma referência ao romance do colombiano Gabriel Garcia Marquez, “Amor nos tempos do cólera”.

O jornal argentino “La Nación” afirmou que os jogadores de futebol nicaraguenses "são obrigados a disputar partidas", apesar do novo coronavírus, mas sem público presente.

A reportagem, com declarações de jogadores argentinos de clubes nicaraguenses, foi ilustrada com a foto de atletas com máscaras.