Domingo, 14 Junho 2020 10:20

Invasão em hospital para Covid-19 põe profissionais da saúde em alerta

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Facebook/VEJA Fachada do Hospital Ronaldo Gazolla, localizado no Rio de Janeiro (RJ)
A invasão de cinco pessoas ao Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, referência para o tratamento para a Covid-19 no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira 12, pôs a categoria de saúde em alerta. O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Alex Telles, chama a atenção para a gravidade do caso e diz acreditar que o episódio tenha sido estimulado pela fala do presidente Jair Bolsonaro no dia anterior. Pelas redes sociais, Bolsonaro havia pedido a apoiadores que “arranjem” um jeito de entrar em hospitais públicos ou de campanha que atendam pacientes com coronavírus e filmem o seu interior. A intenção, explicava, era mostrar a dimensão real da epidemia. Novamente, o presidente levantou suspeitas de que os dados relativos ao novo vírus estariam sendo manipulados para atingir seu governo.
Logo após o incidente ocorrido no hospital carioca, o presidente do sindicato esteve na unidade e conversou com vários plantonistas que presenciaram a ação na área restrita de risco biológico 3 (grande risco de contágio, transmissão por suspensão no ar). “É muita coincidência que no dia seguinte ao presidente ter incitado as pessoas a invadirem os hospitais tenhamos tido um problema destes”, ressalta o médico clínico Alex Telles, que também dá plantão no Ronaldo Gazolla. “Essas pessoas que entraram na área restrita e de forma agressiva puseram em risco médicos, enfermeiros, internos e elas próprias”, completa.
O tumulto no hospital de referência para a Covid-19 no Rio, que fica em Acari, na Zona Norte da cidade, segundo os relatos dos profissionais que estavam no local no momento, foi provocado por cinco pessoas de uma mesma família que acabara de saber do falecimento de um parente. Uma senhora, de 56 anos, que havia sido transferida há dois dias para aquela unidade, teve uma piora repentina do caso e morreu com suspeita de coronavírus. Os familiares, revoltados com a notícia, dada no setor de informações no primeiro andar do prédio, invadiram às instalações e foram até o quinto andar, onde entraram na ala B, reservada aos pacientes da nova doença. Exaltados, chutaram portas, derrubaram computadores e tentaram invadir outras áreas restritas.
Por vários momentos, os invasores, segundo relatos de profissionais, xingaram funcionários e gritavam “mentira, mentira”, assustando funcionários e pacientes. Ontem o hospital tinha cerca de 130 pacientes com a Covid-19 internados na área de clínica médica e 106 na Unidade de Terapia Intensiva (CTI). Os familiares da senhora que acabara de falecer foram contidos com a chegada da Guarda Municipal.
No dia anterior, quinta-feira 11, o presidente Bolsonaro havia levantado suspeitas sobre manipulação de dados e dito: “Seria bom você fazer… na ponta da linha, se tem um hospital de campanha perto de você, se tem um hospital público… arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tem feito isso, mas mais gente tem que fazer pra mostrar se os leitos estão ocupados ou não. Se os gastos são compatíveis ou não. Isso ajuda. Tudo o que chega para mim nas redes sociais a gente faz um filtro e eu encaminho para a Polícia Federal ou Abin (Agência Brasileira de Inteligência)”.
A Secretaria municipal de Saúde divulgou uma nota sobre o problema ocorrido na unidade de referência para atendimento aos casos de coronavírus.
O que ocorreu foi um tumulto causado por cinco pessoas de uma mesma família que, desesperadas ao receberem a notícia da morte de uma parente internada no local – uma senhora de 56 anos – entraram alteradas na unidade, quebraram uma placa de sinalização e bateram uma porta, causando danos. Vigilantes, guardas municipais de uma viatura que fica baseada no hospital e integrantes da equipe assistencial ajudaram a contornar a situação. Uma das pessoas da família, uma mulher, precisou ser medicada para se acalmar.