Sexta, 07 Maio 2021 10:24

Moradores denunciam execuções em operação no Jacarezinho, a mais letal da história do RJ

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Por Eliane Santos, Henrique Coelho e Nicolás Satriano, G1 Rio.

Moradores da Favela do Jacarezinho denunciaram, em vídeos publicados em redes sociais e em relatos à Defensoria Pública, que suspeitos foram executados durante a operação policial na comunidade, na quinta-feira (6).

Na ação mais letal da história do estado do Rio de Janeiro, 25 pessoas foram mortas baleadas – incluindo um policial civil.

uma moradora filma um policial e afirma que o suspeito quer se entregar. A mulher acusa os agentes de tentarem "encurralar" moradores para evitar que eles chegassem até o local onde supostamente o homem teria se rendido.

Operação policial com 25 mortes no Jacarezinho é a mais violenta da história do RJ
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Para defensores públicos, além das denúncias, fotos compartilhadas em redes sociais e também tiradas por fotojornalistas demonstram que a polícia "desfez" a cena de crimes. Para eles, mais um indicativo de que houve execuções de suspeitos – sem chance de rendição.

"O saldo do dia é muito impactante. Chama atenção uma coisa que eu acho que a gente precisa apurar: quantas dessas pessoas chegaram mortas ao hospital. Isso é um indicativo de que pode ter ocorrido, sim, desfazimento de cena de crime", afirmou a defensora pública Maria Julia Miranda, que esteve no Jacarezinho na quinta-feira.
Defensora pública cita 'execução' de suspeito em quarto de menina de 8 anos no Jacarezinho: 'Cama dessa criança lotada de sangue'
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Durante a entrevista coletiva para detalhar a ação, a polícia negou veementemente qualquer irregularidade durante a operação.

O delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário operacional da Secretaria de Polícia Civil, declarou que "se alguém fala em execução nessa operação, foi no momento em que o policial foi morto com um tiro na cabeça". O agente André Farias morreu ao ser atingido enquanto tentava retirar uma barricada.

O Ministério Público estadual informou que vai investigar relatos de abusos policiais, que incluem também invasão a casas e truculência contra moradores.

 

Sangue e corpos arrastados

Imagens obtidas pelo G1 mostram a casa de uma das pessoas que vivem na favela com o chão coberto de sangue, e marcas aparentando que corpos foram arrastados pelo piso.

Oficialmente, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Secretaria de Polícia Civil – grupo considerado de elite que integrou a ação – informou, em nota, ter perseguido dois criminosos que invadiram a casa e fugiram até o segundo andar da residência.

Na versão da polícia, os agentes seguiram os dois homens enquanto moradores ficaram do lado de fora do sobrado. "Os policiais entraram na casa, houve confronto, os policiais reagiram e os traficantes morreram", resume o texto.

 

As fotos também foram enviadas à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no RJ (OAB-RJ). O advogado Rodrigo Mondego, procurador da comissão, contou que uma pessoa que vivia na casa foi para uma área externa, após a invasão.

Depois, segundo o advogado, a testemunha relatou ter ouvido de policiais da Core que ficasse fora de casa, enquanto os policiais estavam no local.

"Ela ficou nervosa, e a polícia disse pra ela ficar do lado de fora. Ela ouviu gritos, e, em seguida, os tiros", contou Mondego.

Os vestígios de sangue podiam ser vistos em vários pontos da casa.

"Em nenhuma hipótese, se dois suspeitos de crime entrassem em uma casa de uma pessoa trabalhadora em um bairro nobre do Rio de Janeiro, elas seriam executadas lá dentro”, declarou o advogado.

O representante da OAB também lembrou do trauma que é para essas pessoas viver a situação, além do prejuízo material ao ter a casa "cravejada de balas, sofás inutilizados por causa do sangue".

Imagens do Globocop mostraram, pela manhã, que bandidos pularam para a casa de moradores para fugir da polícia. Em seguida, policiais também entraram nas residências para perseguir os criminosos.

 

Foto de morto será apurada

Outra denúncia de moradores do Jacarezinho envolve a imagem de um homem morto em uma cadeira de plástico, numa das vielas da comunidade, com um dedo na boca.

Ao ser questionado sobre a imagem durante a coletiva de imprensa na Cidade da Polícia, o delegado Fabrício de Oliveira, coordenador da Core e que participou da operação, confirmou que a imagem era de um dos mortos na favela, mas que as circunstâncias em que ela foi feita vão ser apuradas.