Baiano passava férias em Vera Cruz, cidade natal dele, quando foi morto no dia 11 de abril. Até quarta-feira (28), os suspeitos não haviam sido presos. Amigos fizeram manifestação no Parc de La Villette, em Paris.
Por João Souza, G1 BA.
"Os últimos dias dele aqui na Bahia foram maravilhosos, muito bom mesmo. Ele ficava quase um ano sem aparecer e quando aparecia era aquela festa". Essas são as boas lembranças que um dos sobrinhos de André Conceição Azevedo têm do tio, que foi morto após reagir a um assalto na cidade de Vera Cruz, região metropolitana de Salvador, quando curtia férias.
O capoeirista morava na cidade de Bordeaux, na França, há cinco anos, com a esposa francesa Fabienne Bluteau, de 40 anos, e o filho de três anos. O caso aconteceu no dia 11 de abril e até esta quarta-feira (28), nenhum suspeito havia sido preso pelo crime. O baiano estava com viagem marcada para voltar à França no dia 14 deste mês.
Ao G1, o sobrinho dele contou que o capoeirista tinha saído de casa, por volta das 20h, para entregar uma bicicleta para um amigo. No caminho, ele encontrou uma amiga, quando foi surpreendido por uma dupla armada.
"Eles foram surpreendidos com dois homens dando voz de assalto, pulando o muro, já com a arma em punho, mandando deitar no chão. Pegaram o pessoal e saquearam o pertences, levaram televisão, celulares de quem estava na casa e aí colocou todo mundo no banheiro", disse o sobrinho da vítima.
"Empurraram ele para dentro do banheiro, foi quando ele se bateu na pia e aí virou, viu a porta e tentou fechar a porta, foi quando um dos assaltantes atirou. A bala atravessou a porta e atingiu o peito dele".
A família de André Azevedo agora pede justiça e relembra dos últimos momentos dele na ilha onde nasceu.
"Ele estava feliz demais, estava de bem com a vida, estava terminando de construir a casinha dele, já tinha conseguido o terreno que ele tinha comprado, que até então ele estava sem os documentos, mas conseguiu resolver no cartório e estava super feliz", contou.
O sobrinho de André Azevedo revelou que um dos sonhos do baiano era terminar de construir uma casa na cidade onde ele nasceu.
"Ele queria deixar a obra em andamento, porque iria retornar para a França e só poderia voltar no final do ano novamente. Ele estava muito feliz e isso contagiava bastante quem estava ao lado dele".
Nos dias em que passou na Bahia, André Azevedo costumava a falar com o filho e a esposa por chamada de vídeo.
"Falava muito que estava com saudades do filho, que se pudesse não iria [para a França] para terminar a casa dele, mas ele teria que voltar por causa do trabalho, e principalmente por causa da família e do filho dele", disse o sobrinho do capoeirista.
"Eles se falavam todos os dias por videoconferência, mas ele estava morrendo de saudade, doido para ir embora, para poder ficar mais próximo da família".
Manifestação na França
No último domingo (25), amigos de André Azevedo fizeram uma roda de capoeira no Parc de La Villette, em Paris, em protesto contra a violência na Ilha de Itaparica e pedindo justiça sobre a morte do baiano.
Um dos organizadores da manifestação foi Sergio de Morais, de 43 anos, que mora há 18 anos em Paris. Ele era amigo de infância de André Azevedo e, ao G1, contou que foi responsável por levar o capoeirista pela primeira vez para a Europa.
"Eu trouxe ele aqui para França, daqui ele viajou para outros lugares e agora nós estávamos no Brasil juntos, passamos o verão juntos, mas eu tive que voltar para a França, por causa do trabalho. Eu deixei ele aí, ele já estava perto de voltar quando aconteceu essa tragédia com ele", disse Sergio de Morais.
Segundo Sergio Morais, o grupo pretende fazer outras manifestações para conseguir respostas sobre o crime.
"No domingo passado a gente organizou uma roda de capoeira, pedindo justiça, fazendo manifestações para ver se sensibiliza as autoridades na Ilha e vamos continuar fazendo outras", disse.
Sergio Morais e André Azevedo levaram muitos franceses para conhecer Barra Grande, que fica em Vera Cruz. O brasileiro afirma que por causa do crime, os amigos têm ficado com medo de viajar para conhecer o local.
"Vamos continuar nos reunindo para ver se essa mensagem chega nas autoridades, para que eles possam tomar alguma providência, porque a ilha está muito violenta. Todos os anos a gente leva muitos franceses, muitos europeus do mundo todo, porque nós temos grupos do mundo todo, mas agora com isso tudo, eles estão com muito medo de ir para a ilha", contou.