Veterinários, bióloga, guia e pantaneiro se dedicam há 20 dias a resgatar espécies; Além de cuidar dos bichos, equipe distribui bebedouros e alimentos em áreas atingidas.
Por Ananda Porto, Terra da Gente.
A agonia e a tristeza em ver o Pantanal Norte em chamas e a biodiversidade local sendo devastada de forma avassaladora pelas queimadas levou a guia Eduarda Fernandes Amaral agir em prol dos animais feridos e criar um grupo de voluntários para atuar no resgate desses bichos.
“Eu não aceitava mais ver animais agonizando para morrer. Algo precisava ser feito, o start foi quando uma anta com filhote morreu nos meus braços e eu não pude fazer nada por falta de equipe e preparo. A partir daí eu movimentei uma vaquinha para financiar equipamentos, materiais, veterinários e toda a equipe para trabalhar”, conta.
O time foi composto por seis voluntários de diferentes regiões do Brasil, os veterinários Jorge Salomão, Felipe Coutinho, a estudante de veterinária Isabella Cristina, a bióloga Natália Smiotto, a guia e o pantaneiro João Paulo, proprietário da pousada Jaguar Ecological Reserve, onde a equipe está alojada.
Há quase vinte dias, diariamente, eles se dedicam a mesma atividade: fazer patrulha em áreas atingidas pelo fogo, distribuir cochos e frutas pelo caminho para os animais, e atender chamados de resgates solicitados.
Animais desidratados e feridos são resgatados por equipe de voluntários no Pantanal Norte — Foto: Natália Smiotto
Embora seja necessário o manejo e o cuidado de animais, em casos de desidratação e ferimentos graves, o trabalho de distribuir água e alimento é considerado um dos mais fundamentais pela equipe, já que os animais estão desorientados em meio ao território devastado e dificilmente encontram recursos naturais para sobreviver.
“Os bebedouros são uma forma eficiente de auxiliar o animal achar água no meio dessa sequidão. Os cochos podem salvar muito mais bichos do que o resgate” comenta Eduarda.
Equipe de voluntários presta primeiros socorros a quati encontrado desidratado — Foto: Natália Smiotto
Nós fazemos a busca ativa, entramos no carro e saímos a procura dos animais feridos que precisam de tratamento. Achando os animais a gente faz os primeiros socorros na base que a gente improvisou e se for grave direcionamos para outras instituições, pois não temos estrutura para isso - Jorge Salomão, veterinário
A sede dos voluntários fica no quilômetro 110 da Transpantaneira. Além de alojamento para o time de resgate, o local também conta com uma estrutura provisória criada para atender os bichos, e ainda fazer o acompanhamento necessário.
Em casos emergenciais os animais são encaminhados para o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso (HOVET), em Cuiabá ou ainda outras instituições.
Equipe distribui cochos com água e alimento para os animais — Foto: Édson Vandeira
“Nós estamos trabalhando com tudo literalmente improvisado, não tem nenhum posto de atendimento, um centro especializado para que a gente possa encaminhar esses animais, não tem estrutura nenhuma da parte estadual, federal, por exemplo,”, comenta Jorge Salomão.
Sem amparo o grupo utiliza recursos próprios para atuar na frente de batalha. “Estamos usando veículos próprios, além disso, gente está tendo que pagar veículo para transportar alguns animais grandes, tivemos que fretar um caminhão para transportar uma anta. A maior dificuldade é a falta de estrutura para trabalhar e o local para destinar os bichos para tratamento”, acrescenta.
Em pouco mais de duas semanas 14 animais foram resgatados. De acordo com Eduarda, os répteis estão entre os animais mais atingidos pelo fogo, e os mamíferos também, sendo que grande parte deles é encontrada com as patas queimadas.
Anta ferida pelo incêndio precisou de atendimento dos voluntários — Foto: Natália Smiotto
“A maioria dos casos são graves, como os ferimentos são nas patas, que é o que sustenta todo o peso do corpo, são sempre graves”, afirma.
A equipe também está realizando a patrulha no Parque Estadual Encontro das Águas, o lugar conhecido por abrigar a maior concentração de onças-pintadas no mundo e que já teve metade do território atingido pelo fogo. “Nós vamos com nossos barcos. Geralmente a patrulha começa cedo e vai até de tarde dependendo da demanda”, diz.
Na quinta-feira (10) uma onça-pintada foi localizada prostrada e com ferimento nas patas, infelizmente este indivíduo não conseguiu ser resgatado. No dia seguinte os voluntários conseguiram ajudar outra onça que também estava ferida, e com apoio do helicóptero da marinha, o felino foi encaminhado para o hospital veterinário do estado. Em agosto uma onça-pintada foi resgata com as quatro patas queimadas, o animal está sob acompanhamento em Goiás.
Jorge Salomão, veterinário que trabalha com animais silvestres também lamenta o cenário atual da maior planície alagável do mundo. “O cenário é devastador, a gente olha e chega a doer, está tudo devastado o fogo queimou literalmente tudo, é muito triste está tudo cinza e silencioso a gente não ouve aquele barulho das aves, é bem triste”, aponta.
Há mais de duas semanas voluntários se dedicam em resgatar animais no Pantanal — Foto: Natália Smiotto
Embora o time não meça esforços para ajudar nessa grande batalha, muitos desafios surgem pelo caminho, principalmente relacionados à falta de apoio, logística, comunicação e também suporte dos órgãos públicos.
Para que seja possível continuar executando o trabalho os voluntários contam com apoio de doações que estão sendo movimentadas pelos fundos da ONG Ampara Animal ou o Pantanal Relief Found. No Instagram a equipe divide diariamente um pouco desse trabalho árduo e informa como as arredações podem ser feitas.
Também estão na linha de frente de ajuda aos animais machucados, o Grupo de Resgate de Animais em Degradação (Grad) e a ONG Ecotrópica. Além disso, há voluntários e pantaneiros atuando no combate ao fogo.