Sexta, 30 Novembro 2018 08:50

PIB cresce com mais vigor, mas base de expansão é frágil, sugerem economistas

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Por Taís Laporta.

A economia brasileira cresceu com mais vigor no terceiro trimestre, mas esse avanço está mais ligado a motivos extraordinários do que a um ritmo de crescimento robusto. O bom resultado veio, em grande parte, de um “efeito de devolução” das perdas no trimestre anterior. A nova metodologia do IBGE que considera a importação de plataformas de petróleo como investimento, por exemplo, contribuiu para essa expansão.

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O Produto Interno Bruto (PIB) do 3º trimestre cresceu 0,8% na comparação com os três meses anteriores. O resultado foi divulgado nesta sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A greve dos caminhoneiros – que paralisou o país no fim de maio e levou a uma crise de desabastecimento – fez a economia crescer menos: apenas 0,2% no segundo trimestre. Essa base deprimida fez com que, na comparação entre os dois trimestres, o PIB de julho a setembro mostrasse um resultado melhor. Contudo, os economistas não veem motivo para grandes comemorações.

“Recuperamos um pedaço do crescimento que foi tirado no segundo trimestre pela paralisação dos transportes, mas ainda assim seguimos em recuperação”, explica a professora de economia da Fecap, Juliana Inhasz.

Enquanto a indústria apenas devolveu as perdas drásticas da greve, a agropecuária sentiu menos, beneficiada pela produção recorde de soja, pela quebra da safra na Argentina e, em parte, pela guerra comercial entre China e os Estados Unidos, que ajudou a elevar as exportações da commodity para o país asiático.

Já o setor de serviços seguiu crescendo. A criação de vagas de trabalho, ainda que bem tímida, deu um impulso para a capacidade de consumo das famílias, ainda que em ritmo lento, explica o analista de atividade econômica da Tendências Consultoria, Thiago Xavier. "Não é que está bom, mas nos últimos trimestres estava pior".

 

Efeito permanente da greve

 
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Caminhoneiros seguem com protestos em rodovias do ES — Foto: Secundo Rezende/ TV Gazeta

Apesar da saída gradual da crise, a greve acabou gerando efeitos nocivos que contaminaram a economia de forma disseminada, afetando parte do desempenho do terceiro trimestre, observa Xavier.

“A paralisação dos caminhoneiros desarticulou importantes setores da produção industrial, afetou o comércio e expôs a fragilidade fiscal do governo, criando desajustes com o subsídio ao diesel e o tabelamento do frete", diz o economista.

Em sua avaliação, a greve gerou danos permanentes em um período em que a economia crescia de forma arrastada, piorando as expectativas. Isso se soma às incertezas da disputa eleitoral, que tomaram conta de parte do trimestre, gerando volatilidade nos mercados e clima de cautela.

Recuperação ainda é moderada

Mesmo com o efeito pós-greve, a alta de 1,3% na comparação com o terceiro trimestre de 2017 mostra que o ritmo de retomada teve uma ligeira aceleração, mas nada que mude a leitura dos economistas para um crescimento mais robusto da economia.

“Essa crise econômica não foi marcada apenas por ser a mais longa e profunda, mas principalmente pela demora em recuperar as perdas”, diz Xavier, da Tendências.

A saída gradual da crise vem acontecendo numa velocidade não muito diferente do primeiro trimestre e até do segundo, caso a greve não tivesse ocorrido, destaca Juliana, da Fecap. “É como se a economia tivesse continuado a crescer em torno de 0,5% por trimestre”.

 

Para a economista, as incertezas do período eleitoral terão um efeito mais nítido apenas no quarto trimestre, já que o terceiro só pegou um mês da disputa presidencial, quando se espera um crescimento maior pela expectativa de mudanças e aprovação de reformas como a da Previdência para o ano que vem.

Investimentos ganham tração

Todos os componentes do PIB vieram positivos, tanto pela ótica da oferta quanto da demanda.

 
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Plataforma de petróleo no campo de Lula, na costa do Rio de Janeiro. — Foto: Reuters/Sergio Moraes

O grande destaque do trimestre foi o avanço extraordinário de 6,6% dos investimentos em bens de capital (Formação Bruta de Capital Fixo), o melhor resultado desde o quarto trimestre de 2009.

Mas o que ajudou foi a nova metodologia do IBGE, que passou a incorporar a importação das plataformas de petróleo no cálculo do PIB, decorrente de mudanças no regime Repetro.

A taxa de investimento (FBCF) vinha caindo substancialmente desde 2013, após atingir o ápice, e só voltou a crescer em 2017. Mas está longe de recuperar as perdas em torno de 30% no período de crise.

O fato de haver 82 plataformas petrolíferas no país desde a década de 1980 gera uma mudança considerável no resultado, avalia Considera. O novo cálculo deu impulso não só para máquinas e equipamentos, mas também para as importações.

 
Se o IBGE não considerasse as plataformas, o crescimento dos investimentos viria pela metade, mas continuaria positivo, na visão do pesquisador. “Os empresários têm investido regularmente no setor de máquinas e equipamentos nos últimos trimestres”.

Segundo Xavier, da Tendências, os investimentos têm crescido mais facilmente porque os anos anteriores foram muito ruins. “Não é difícil crescer diante de uma base depreciada e de uma grande perda acumulada”, destaca.