Documento aponta crime de responsabilidade e diz que o negacionismo do presidente diante da pandemia de Covid-19 tem custado vidas. Mais de 60 pedidos de impeachment já foram protocolados contra o presidente da República.
Por G1 — Brasília.
Um grupo de médicos e cientistas protocolou um pedido de impeachment na Câmara contra o presidente Jair Bolsonaro. O pedido afirma que Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade na condução da pandemia de Covid-19.
Para embasar o pedido, os médicos e cientistas listaram uma série de declarações públicas e ações de Bolsonaro desde março de 2020, quando o coronavírus começou a se alastrar pelo país, até o dia 20 do mês passado.
Foi citada, por exemplo, a frase "Não sou coveiro", proferida por Bolsonaro após ser questionado sobre o elevado número de óbitos pela doença no país. O pedido lembra também as declarações de Bolsonaro contra as medidas de isolamento social e as ocasiões em que o presidente minimizou os efeitos da doença.
Segundo os médicos e cientistas, o presidente "usou seus poderes legais e sua força política para desacreditar medidas sanitárias de eficácia comprovada e desorientar a população cuja saúde deveria proteger".
O pedido também afirma que o negacionismo de Bolsonaro tem custado vidas de brasileiros.
"O Sr. Jair Messias Bolsonaro insistiu em arrastar a credibilidade da Presidência da República (e, consequentemente, do Brasil) a um precipício negacionista que implicou (e vem implicando) perda de vidas e prejuízos incomensuráveis, da saúde à economia", diz um trecho do documento.
O documento foi assinado por oito profissionais entre médicos e cientistas. São eles:
- Daniel de Araújo Dourado - Médico, advogado e pesquisador Associado do Núcleo de Pesquisa em Direito Sanitário da Universidade de São Paulo (NAP-DISA/USP)
- Eloan dos Santos Pinheiro - Ex-diretora da Far-Manguinhos (Fiocruz)
- Gonzalo Vecina Neto - Médico, professor de saúde pública da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
- José Gomes Temporão - Médico sanitarista e ex-ministro da Saúde
- Ethel Leonor Noia Maciel - Pesquisadora no Campo da Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia
- Reinaldo Ayer de Oliveira - Médico e Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP)
- Ricardo Oliva - Médico sanitarista
- Ubiratan de Paula Santos - Pneumologista do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Cabe ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidir se aceita ou não um pedido de impeachment. Já foram protocolados mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Lira é aliado do presidente da República.
Outros pedidos
No dia 26 de janeiro lideranças religiosas protocolaram na Câmara um pedido de impeachment contra Bolsonaro, também devido à atuação do governo no enfrentamento da pandemia.
O documento foi assinado por 380 pessoas, entre as quais bispos, pastores, padres e frades, ligadas a igrejas cristãs, incluindo católicas, anglicanas, luteranas, presbiterianas, batistas e metodistas, além de 17 movimentos cristãos.
No dia seguinte, outro pedido foi protocolado por seis partidos de oposição — PT, PSB, PDT, PCdoB, PSOL e Rede – com base nos mesmos argumentos.