Autor de 'Rita', sucesso sobre homem que perdoa facada de mulher, diz que pensa em compor outra música explicando o lado dela. G1 analisa onda de 'mulheres-hit'; ouça.
Por Rodrigo Ortega.
Tierry, pai de Rita, não tem pudor em defender a moça que esfaqueou, traiu e abandonou seu antigo companheiro. O compositor e cantor baiano diz ao G1 que ela pode ter seus motivos.
A questão tem dois gumes, ele pondera: por um lado, a violência nunca é justificável; por outro, ela pode ter sido alvo de alguma agressão doméstica anterior.
“Rita” saiu em julho de 2020 e foi um dos maiores sucessos dos últimos meses no Brasil. O hitmaker do arrocha ainda puxou uma fila de outras músicas com nome de mulheres e versos violentos. O podcast G1 Ouviu contou essa história; ouça abaixo:
Hits de mulheres ferozes: 'Letícia', de Zé Vaqueiro, 'Rita', de Tierry, 'Virgínia', de Zé Felipe, e 'Larissa', de Pedro Sampaio — Foto: Arte G1 / Wagner Magalhães
Tierry de Araújo Paixão da Costa, 31 anos, também falou ao G1 sobre seus planos, que incluem uma continuação de "Rita" dando sua versão para o crime. Leia um resumo da conversa abaixo:
G1 - Todo mundo fala da sua "Rita" como uma precursora dessa onda atual de mulheres perigosas. Como foi compor e o que te inspirou?
Tierry - Fico feliz de ter feito algo que criou uma tendência nesse momento que a música passa. Falar de mulher sempre foi especial. Até porque são as mulheres que levam a música da gente para todos os cantos. Você lança uma música e ela manda para a amiga, a irmã, a tia, bota no grupo da família.
A Rita foi uma situação engraçada. Eu li um comentário em uma live de um cara que falava que perdoava a facada da namorada. E eu achei aquilo extremamente louco, visceral, exacerbado, um amor que era arrasador. Cara como pode alguém perdoar uma facada?
Já que é algo tão absurdo, falei: 'Vou por isso na minha música'. Eu gosto de coisas absurdas. Fiz "Cracudo". Fiz "Já peguei coisa pior". Músicas que falam de coisas que talvez outros artistas não tinham coragem. Tenho essa liberdade. Vou lançar agora a "Xvideos".
Tierry — Foto: Divulgação
G1 - Você tem uma "Cibele" também para lançar, fiquei sabendo. Como ela é?
Tierry - A Cibele tinha abandonado a vida de promiscuidade pelo cara. Só que ela volta de novo para o cabaré, a vida de antes. E ele entende, é a vida dela. Mas ele fala: "ó, te amo tanto, para mim faz um preço promocional, pelo menos" (risos).
G1 - Mas voltando à "Rita" e à onda que ela puxou, por que você acha que ela pegou nesse nervo popular?
Tierry - Porque tudo que é verdadeiro vai ressoar. Vai chegar. Isso é o que mais acontece. A maioria dos chamados de polícia hoje no Brasil é para briga de casais. Infelizmente a gente tem que falar de uma coisa muito real no Brasil, que é triste, que é a violência doméstica.
Eu tenho que defender a Rita. Sabe lá o que a Rita passou para ter esse posicionamento dela. Óbvio que a gente sabe que nada justifica a violência. Mas o que a Rita passou?
Inclusive as pessoas pedem para fazer a versão da Rita, ela defendendo por que deu a facada. Por que ela traiu? Existe essa incógnita na mente das pessoas.
G1 - E você tem alguma ideia para responder?
Tierry - Já tive algumas ideias. Mas eu gosto de surpreender. Pode ter certeza. Eu sou muito do "plot twist". Você está achando que sabe e eu vou por outro caminho. Minhas músicas têm sempre uma surpresa, uma volta por cima, uma reviravolta. Essa é minha peculiaridade.
Então, a Rita foi esse grande sucesso porque fala a verdade da vida das pessoas. Todo dia a gente vê aí uma confusão rolando. Tem uma expressão da Bahia que é a "queixa". Do tipo: eu tenho várias queixas, tem várias coisas em você que eu não gosto, mas por te amar eu aceito, entendeu?