Alta do dólar e aumento do valor do minério de ferro impulsionam o orçamento dos municípios.
Por Thais Pimentel, G1 Minas — Belo Horizonte.
“Nós abrimos quatro mil vagas no ano passado”, disse o prefeito de Itabirito, na Região Central de Minas Gerais, Orlando Caldeira (Cidadania). A cidade – que tem pouco mais de 52 mil pessoas, segundo estimativa do IBGE – teve uma variação de empregos oito vezes maior que a do Brasil nos últimos 12 meses.
Em abril deste ano, a tonelada da commodity com teor de 62% de ferro avançou 4,3%, alcançando US$ 189,61, o maior nível desde fevereiro de 2011. No acumulado de 2021, os ganhos chegam a 18,2%. O preço do minério com 65% de pureza avançou US$ 6,50, para US$ 222,80 por tonelada.
Os municípios que têm exploração mineral recebem das mineradoras 60% da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), que é atrelada ao preço do minério de ferro. Com isso, o orçamento destas cidades aumentou. Os outros 40% são distribuídos para estado e União.
O Cfem não pode ser usado em folha de pagamento, mas é fundamental nos investimentos em educação, saúde e infraestrutura destas cidades.
“O aquecimento da commodity, com a volta da demanda da China, aumentou a arrecadação do Cfem. Houve aumento da oferta de empregos e a gente vive uma situação de pleno emprego aqui na cidade. Especialmente no setor de mineração e no da construção civil”, disse o prefeito de Conceição do Mato Dentro e presidente da Associação dos Municípios Mineradoras de Minas Gerais (Amig), Zé Fernando (MDB).
A cidade, que vive da mineração e também do turismo, tem cerca de 17 mil pessoas. A variação de empregos foi de 13,74%, nos últimos 12 meses.
A alta do dólar também explica o bom momento do minério de ferro e o consequente crescimento na arrecadação dos municípios mineradores. No início de maio, a moeda americana fechou cotado a R$ 5,36.
“Nós tivemos um aumento de 90% no Cfem em 2020, em relação a 2019”, disse o prefeito de Itabirito.
E em 2021, o aumento continuou. Segundo a Amig, o Cfem de Minas Gerais acumulou R$ 392.131.339, no 1º trimestre de 2020. No mesmo período deste ano, houve um salto para R$ 881.304.755.
Com os dias contados
A dependência das cidades mineradoras em relação ao Cfem é alta. Muitas não têm atividades que possam competir com a mineração em relação ao retorno financeiro. Mesmo sendo um recurso finito, poucos municípios têm se preparado para isso.
Itabira, primeira cidade explorada pela Vale (maior produtora de minério de ferro do mundo), criada em 1942, já vive contagem regressiva para o fim da exploração. A expectativa é que a exaustão mineral aconteça em 2031.
“Nossa expectativa é usar o recurso do Cfem para nos prepararmos. A ideia é investir em outros setores, capazes de sustentam a cidade, vista a dependência que Itabira tem do minério de ferro”, disse o prefeito Marco Antônio Lage (PSB).
Com o boom do preço da commodity, a variação de postos de trabalho dos últimos 12 meses foi de 12,51%. A arrecadação do Cfem pode ser recorde.
“A projeção deste ano é quase o dobro do ano passado. Nesse ritmo, 2021 vai ser o melhor ano da história”, falou o prefeito.
A cidade arrecadou mais de R$ 41 milhões nos primeiros três meses de 2020. Em 2021, o Cfem foi para 69.238.369. Com este capital, o município pretende investir em outras atividades. Transformar Itabira em cidade turística, polo universitário da região, centro hospitalar e até referência na produção de bananas são algumas das opções.
“O desafio é desenvolver uma política de construção de uma cidade sustentável. O minério de ferro é finito. Isto é um fato. Ele vai acabar”, disse o prefeito.