O depoimento de João de Deus, 76, na noite de domingo (16), em Goiânia, teve uma sequência de imprevistos que deixou os investigadores desconfiados.
Na hora de o médium falar, segundo os presentes, o computador usado para registrar as alegações do preso parecia ter vida própria. "Você apertava uma tecla e ela OOOOOOOOO...", descreveu a delegada Karla Fernandes, coordenadora da força-tarefa responsável pelo caso na Polícia Civil.
Estava calor, e a delegada resolveu usar uma extensão para ligar o ar-condicionado. Segundo relata, o fio explodiu e, de quebra, queimou o frigobar. "Todo mundo gritou dentro da sala", disse.
João de Deus foi preso no domingo sob suspeita de abusos sexuais de suas pacientes em Abadiânia, no interior de Goiás. A oitiva com o médium estava marcada para ocorrer em Anápolis, cidade próxima à capital goiana, mas um imprevisto tirou o escrivão de circulação. Ele foi atropelado na BR-060, a caminho da delegacia, e quebrou o braço.
O depoimento foi transferido para Goiânia. Foi possível domar o teclado, todos se recuperaram do susto da explosão do fio do frigobar e o interrogatório seguiu por mais de duas horas.
Para a delegada, os episódios podem não ser apenas obra do acaso. "Estamos diante de uma situação que envolve crenças e energias."
Questionada se estava com medo, disse: "Não, mas tenho respeito, até porque sou espiritualista". Ela classifica João de Deus como um homem que tem, de fato, "um poder". "Mas houve um desvio no meio do caminho", disse a delegada.
No depoimento que prestou à polícia, o médium negou qualquer tipo de culpa nos abusos sexuais dos quais é suspeito, e sua defesa tentou desqualificar as denunciantes. "Ele não admite [envolvimento]. Apresenta suas versões e cabe à polícia provar", afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, que acompanhou a oitiva.
O médium falou por mais de duas horas a duas delegadas. Segundo a delegada Karla, ele respondeu a todas as perguntas e se recordou de alguns atendimentos feitos a mulheres que o denunciaram.
O suspeito disse que a regra era recebê-las coletivamente, e não em recintos individuais, como consta dos relatos de supostas vítimas.