Milhares de pessoas invadiram a pista no aeroporto internacional de Cabul nesta segunda-feira (16), e multidões tentaram entrar em aviões para deixar o Afeganistão, agora dominado pelo Talibã.
Vídeos mostram pessoas tentando adentrar aeronaves paradas e subindo em um avião da força aérea americana que estava prestes a decolar.
O tumulto deixou mortos e feridos. As forças americanas assumiram o controle do local e suspenderam todos os voos do aeroporto Hamid Karzai para tentar controlar a situação.
O porta-voz-chefe do Pentágono, John F. Kirby, disse que 2,5 mil fuzileiros navais americanos foram enviados ao local. E tropas turcas passara a ajudar a proteger o aeroporto (veja mais abaixo).
A autoridade de aviação afegã afirmou que o aeroporto foi "liberado para os militares" e aconselhou as companhias aéreas a evitarem o espaço aéreo do país, o que levou as principais delas a desviarem voos.
Número de mortos
O número de vítimas não havia sido confirmado oficialmente por autoridades afegãs até a última atualização desta reportagem.
O porta-voz do Pentágono afirmou também que um soldado ficou ferido e dois afegãos armados foram mortos após terem atirado contra tropas americanas, segundo informações preliminares.
O jornal americano "The Wall Street Journal" diz que três pessoas foram mortas por armas de fogo. A agência de notícias Reuters fala em cinco óbitos.
A Reuters não diz se as vítimas foram atingidas por disparos de armas de fogo ou pisoteadas durante a confusão. Não está claro se os tiros foram disparados contra pessoas ou para o alto.
Talibã volta ao poder
Os afegãos estão tentando deixar o país após o Talibã tomar a capital Cabul e voltar ao poder depois de 20 anos. O presidente fugiu do Afeganistão, e o palácio presidencial foi tomado neste domingo (15).
O porta-voz do Talibã, Mohammad Naeem, afirmou à rede de televisão Al Jazeera que "alcançamos o que buscávamos, que é a liberdade do nosso país e a independência do nosso povo".
"Pedimos a todos os países e entidades que se reúnam conosco para resolver quaisquer questões", disse Naeem. "Não achamos que as forças estrangeiras irão repetir sua experiência fracassada no Afeganistão mais uma vez."
EUA invadiram Afeganistão em 2001
Os EUA atacaram o Afeganistão em 2001, em reação ao atentado do 11 de Setembro, e tirou o grupo extremista do poder. O Talibã foi acusado pelos americanos de esconder e financiar membros da Al-Qaeda, grupo terrorista comandado por Osama bin Laden e responsável pelo atentado.
Em fevereiro de 2020, o então presidente americano, Donald Trump, assinou acordo de paz com o Talibã que previa a retirada total das tropas do país até abril deste ano.
O atual presidente dos EUA, Joe Biden, manteve o acordo e adiou a saída completa para o fim deste mês.
A maior parte das forças lideradas pelos EUA deixaram o Afeganistão em julho, e o Talibã se aproveitou da retirada e avançou rapidamente pelo país, conquistando diversas capitais de províncias desde o início do mês.
A queda de Cabul ocorreu muito antes do previsto pelos EUA. Segundo a Reuters, a estimativa dos serviços de inteligência americanos era a de que o Talibã chegasse a Cabul em setembro, com uma possível tomada do poder em novembro.
Durante o tumulto no aeroporto internacional de Cabul, tropas dos EUA que ajudavam cidadãos americanos a embarcarem dispararam tiros e assumiram o controle do local.
Um oficial americano afirmou à Reuters que "a multidão estava fora de controle" e os disparos foram feitos "apenas para neutralizar o caos".
Mais de 60 países, incluindo EUA, Alemanha, Japão e França, publicaram um comunicado no domingo em que fizeram um apelo para que cidadãos afegãos e estrangeiros tenham permissão para deixar o Afeganistão em segurança.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou em uma reunião a portas fechadas que o país precisa evacuar com urgência cerca de 10 mil pessoas sob sua responsabilidade, segundo a Reuters.
"Estamos testemunhando tempos difíceis", teria dito Merkel a colegas de seu partido, o Democrata Cristão. "Agora devemos nos concentrar na missão de resgate."