O capitão Silvio Anderson da Silva Vanderlei e Ana Paula Barbosa de Sena se casaram em uma chácara de Araguaína. A mulher, que ficou viúva após ter o companheiro morto em um assalto, conta que teve medo de perder o noivo. "Carrego um trauma enorme", disse.
Por Letícia Queiroz, g1 Tocantins.
Um casamento realizado em Araguaína, no norte do Tocantins, emocionou os convidados. É que o noivo, o policial militar Silvio Anderson da Silva Vanderlei, conhecido por capitão Vanderlei, foi atropelado horas antes da cerimônia. Mesmo tendo sofrido uma fratura exposta perto do tornozelo e passado por uma cirurgia de urgência ele decidiu se casar e apareceu na festa em uma cadeira de rodas e sob efeito de fortes medicamentos.
A noiva Ana Paula Barbosa de Sena, que já tinha perdido um marido, ficou em choque, e disse que o ato "foi uma declaração de amor perfeita". Um vídeo feito no local mostra o policial lesionado indo em direção ao altar.
Ana Paula, que é administradora e trabalha como vendedora em um estabelecimento da cidade, conta que o acidente aconteceu no último domingo (10) quando o noivo saía de casa para ir ao salão cortar o cabelo. "Era manhã. Ele estava de moto e foi atingido por um carro. Eu estava no salão a uma esquina do acidente e vi ele todo ensanguentado", disse.
Ao ver o noivo no local da colisão a mulher relembrou a cena de terror que viveu anos atrás. Aos 36 anos ela já passou por vários traumas, como a morte do pai e do primeiro marido. Ana Paula conta que o companheiro anterior foi assassinado em 2016. Ana Paula conta que teve medo de passar pela mesma situação no dia do casamento.
"Ele é a primeira pessoa que tive depois de ter ficado viúva. Passei anos trancada. No momento do acidente achei que ele também não ia sobreviver porque naquele momento a gente não sabe o que realmente aconteceu. Tremi as pernas, comecei a bater os queixos era como se eu estivesse revivendo aquele trauma. Eu estava fora de mim e anestesiada pelo choque. Ele foi para o hospital de emergência e precisei ir para a UPA", contou Ana Paula.
Noivo subiu ao altar após passar por cirurgia — Foto: Egitos Fotografia/Divulgação
O casal se conheceu por telefone, através de um amigo, e começou o namoro em 2019. O pedido de casamento foi feito no dia 3 de julho de 2021. Durante meses, tudo foi organizado para que a festa começasse às 16h deste domingo.
O policial Messias Ribeiro, que é amigo, padrinho e 'cupido' do casal conta que o acidente atrasou a cerimônia, mas em nenhum momento o noivo pensou em adiá-lo.
"Foi uma saga. Ele foi socorrido pelo Samu, se manteve consciente e falava o tempo todo que queria casar naquele dia, independente de qualquer coisa. Deu entrada no centro cirúrgico, foi imobilizado, fez uma cirurgia de limpeza e médicos disseram que ele precisa de mais um procedimento. Ele foi pra cerimônia e saiu do casamento direto para o hospital. Foi uma solenidade emocionante, cheia de expectativas e superação", disse o padrinho.
Padrinho do casal ficou emocionado com a festa — Foto: Arquivo pessoal
A noiva conta que passou todo o dia chorando. A decoração da festa chegou a ser desmontada, mas depois tudo foi organizado novamente, como o noivo queria.
"Fiquei com o rosto inchado de tanto chorar. Eu estava em choque e queria em outra data, mas ainda bem que aconteceu. Ele fez uma declaração de amor mais que perfeita. Teve tanto amor por mim e respeito por todos que estavam ali. Ele parece um super-herói. Mesmo quebrado ele estava lá, ainda com efeito de medicamentos, sem poder se mexer direito. Não teve uma pessoa que não chorasse no casamento", disse.
O capitão Vanderlei estava internado em um hospital particular de Araguaína na terça-feira (12), e o estado de saúde é estável. O policial realizou vários exames, incluindo tomografia, e aguarda a realização de um novo procedimento.
A noiva, depois do susto, conta que o sentimento é de gratidão. "Meu choque foi do tamanho do amor que sinto por ele. Agora estou sentindo muita gratidão. Nunca questionei Deus pelo que aconteceu comigo", disse.
Casamento após acidente emocionou convidados em Araguaína — Foto: Divulgação/Messias Ribeiro