Vereador é acusado por ex-funcionários de agressões físicas, assédios moral e sexual e manipulações de vídeo. Uma mulher o acusa de estupro. Denúncias foram exibidas em reportagem do Fantástico.
Por Raoni Alves, g1 Rio.
O Conselho de Ética da Câmara do Rio decidiu adiar por uma semana a decisão sobre a abertura ou não de um processo administrativo contra o vereador Gabriel Monteiro (sem partido). A reunião aconteceu na tarde desta terça-feira (29).
“Decidimos que no prazo de sete dias o conselho vai ter tempo para analisar, coletar dados, provas até, de forma tranquila”, disse o presidente do conselho, vereador Alexandre Isquierdo (DEM).
Isquierdo disse ainda que o conselho não vai tomar nenhuma decisão com base em redes sociais e na imprensa.
"Não tem diferença nenhuma se essa decisão for tomada daqui a sete dias ou daqui a 48 horas. A gente tá discutindo aqui cinco dias. A única coisa que a gente tá pedindo é um prazo para discutir com a Procuradoria, coletar dados e elementos para fundamentar. Até para que a gente não sofra uma nulidade do processo e uma possível representação".
O presidente falou que o conselho pretende ouvir as pessoas que fizeram a denúncia, mas não no prazo de sete dias.
Gabriel Monteiro chegou a pedir à comissão para acompanhar a reunião, mas não foi autorizado a entrar.
Em denúncias exibidas pelo Fantástico, no domingo (27), pessoas que trabalharam para o vereador relataram episódios de assédio moral e sexual, agressões físicas e afirmaram que alguns de seus vídeos postados em redes sociais foram forjados. Além disso, uma mulher o acusa de estupro.
Sete titulares e dois suplentes participaram da reunião:
- Alexandre Isquierdo (presidente - DEM)
- Teresa Bergher (Cidadania)
- Chico Alencar (Psol)
- Dr. Gilberto (PTC)
- Dr. Rogério Amorim (PSL)
- Rosa Fernandes (vice - PSC)
- Zico (Republicanos)
- Wellington Dias (PDT)
- Luiz Ramos Filho (PMN)
A bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara oficiou a presidência pela abertura de um processo ético-disciplinar contra o vereador. No documento, os vereadores Lindbergh Farias (PT), Reimont (PT) e Tainá de Paula (PT) citam que a "má conduta do vereador se caracteriza como contumaz", tendo sido mencionada em outras duas reuniões em abril de 2021.
O vereador nega as acusações e disse não temer nada.
"Estou muito feliz de estar tendo essa reunião porque eu preciso do meu direito da ampla defesa e contraditório. Eu não temo nada. As verdades já estão expostas nas redes sociais. Então, tem que ter reunião do Conselho de Ética, tem que ter avaliação, e quem não cometeu nenhum crime está aqui para mostrar a verdade", disse Gabriel Monteiro.
Nesta segunda-feira (28), o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) abriu um inquérito para apurar se Gabriel Monteiro violou direitos da criança que aparece em um vídeo do político publicado na internet.
Denúncias de assédio
Luiza Batista foi assistente de produção de Gabriel e é uma das pessoas que o acusa de assédio sexual. Ela trabalhava para os canais do vereador na internet, e relatou ao repórter Pedro Figueiredo que algumas situações inconvenientes estão registradas nos vídeos que ela ajudava a gravar.
"Ele me abraçava assim por trás, 'te amo' e não sei o que, 'você é minha amiga'. Beijava o meu rosto, saía de pênis ereto e ia mostrar para o segurança", relata. "Uma vez, foi no carro que ele começou pedindo para fazer massagem no meu pé. Puxou meu pé e fez massagem. Eu tentava tirar o pé e ele segurava. Aí foi começando a passar a mão nas minhas pernas. Foi para o banco de trás e começou a me agarrar, me morder, me lamber.
O repórter perguntou se ela era tocada por Gabriel sem autorização, e Luiza confirmou.
"Dá pra ver que ele chegava a passar (a mão). Eu falava: Gabriel, não gosto de gravar esses vídeos, você sabe. E toda vez ele ficava descendo a mão. Cansou de passar a mão na minha bunda. E eu segurando a mão dele. Pedindo e pedindo", conta.
Após sete meses de trabalho para o vereador, ela acabou procurando um psiquiatra.
"Eu queria tirar minha própria vida, porque eu me sentia culpada. Será que estou usando alguma roupa que está causando isso? Será que a culpa é minha de alguma forma? Aí eu começava a pedir a deus para me levar."
Outra mulher, que não quis revelar sua identidade, afirma que consentiu o início das relações sexual com Gabriel Monteiro. No meio da relação, o ato evoluiu para um estupro, porque ela diz que pediu para que ele parasse.
"Teve um momento que ele usou força. Me segurou e foi com tudo. Me deixou sem saída. Eu pedindo para ele parar, ele não respeitou o momento em que eu pedi para ele parar.", disse a mulher que acusa Gabriel Monteiro de estupro.
Ela continua, relatando a reação de Gabriel: "E ele rindo, 'é uma brincadeira. Não leva a sério, não. Não fica chateada."
O repórter perguntou se ela se sentiu abusada. Ela respondeu que sim:
"Super abusada. Ele me machucou, agiu com agressão e força física."
Um funcionário, que também não quis se identificar, contou que era obrigado a cumprir expediente na casa de Gabriel, onde presenciou cenas constrangedoras. Ele diz:
"A gente ficava ali na frente e várias vezes ele foi na parte da frente da varanda da casa, e em outros cômodos a gente já viu também, com o órgão sexual para fora. E se vangloriando do tamanho do pênis. E mesmo se masturbando na frente de toda a equipe."
Outras irregularidades
Em outros detalhes da reportagem, o Fantástico também mostrou que nos vídeos de seu canal no YouTube, Gabriel Monteiro encenava e "dirigia" o que era filmado. Com ajuda de policiais militares, simulou ações de tiroteio e chamou a polícia, orientando o que seria relatado aos oficiais que chegassem.
Em outro vídeo que a reportagem teve acesso ao material bruto, Gabriel é visto orientando uma criança a dizer que está sem comida. Na versão editada, publicada em suas redes sociais, ele leva a menina ao shopping e ouve que "está comendo o que mais gosta".
Uma perita analisou o material e concluiu que o material bruto e editado são "incompatíveis".
"A conclusão a que se chega é que esses elementos presentes no vídeo bruto são incompatíveis com a situação de ameaça ou emboscada real. O que se percebe é que há tiros nos dois vídeos, só que esses tiros são distantes dele", diz Valéria Leal, perita judicial e diretora da ForensePro. "Várias vezes ele orienta 'vai para lá, filma a favela'. Ele orienta como gravar, onde gravar. Orienta a posição das pessoas. Não parece realmente que ele está sob forte emoção ou numa determinada ação ou atitude ameaçadora."
Uma pesquisadora que estuda o aumento no número de ex-policiais que se elegeram parlamentares nas últimas eleições vê conflito de interesses em um servidor público se promover nas redes sociais.
"Com a pouca regulamentação no país, essa mistura é muito nociva, porque a gente começa a ver situações em que não há nenhum controle policial, criando e forjando ocorrências, forçando a barra com determinados públicos, criando e fortalecendo essa ideia do policial guerreiro e salvador para ganhar cliques. E a gente vive em uma sociedade com medo, uma sociedade que de forma brusca esses heróis," analisa Carolina Ricardo, diretora-executiva da ONG Sou da Paz.