A pedido do Ministério Público e da Justiça, Polícia Civil abriu investigação para saber se donas e funcionária da escola, acusadas de torturar e maltratar 9 alunos, tiveram ajuda de outras professoras nos crimes e em mais 34 novas denúncias feitas por pais. Sócias estão presas, e empregada responde ao processo em liberdade; elas negam acusações.
Por Kleber Tomaz, Deslange Paiva e Carlos Henrique Dias, g1 SP — São Paulo.
A Polícia Civil de São Paulo abriu em junho outro inquérito para apurar novas denúncias de tortura e maus-tratos, desta vez, supostamente contra mais 34 crianças (20 meninos e 14 meninas) da escola particular de educação infantil Colmeia Mágica, na Zona Leste da capital. Esta será a segunda investigação envolvendo a escolinha desde que o caso foi revelado em março pelo g1.
Entenda abaixo como estão as duas investigações:
1º inquérito
No primeiro inquérito, aberto no início do ano, a 8ª Delegacia Seccional concluiu que duas donas da Colmeia Mágica e uma funcionária cometeram tortura e maus-tratos contra nove alunos (duas meninas e sete meninos). A polícia passou a investigar os crimes depois que vídeos circularam nas redes sociais mostrando crianças chorando, amarradas com lençóis, presas a cadeirinhas de bebês dentro do banheiro da escola. As imagens teriam sido gravadas por funcionárias descontentes.
A Colmeia Mágica atendia crianças de 0 a 5 anos, do berçário ao ensino infantil. O caso provocou indignação nos pais de alunos. Atualmente a escolinha está fechada.
Além de tortura e maus-tratos contra nove crianças, Roberta e Fernanda Serme, respectivamente diretora e sócia da Colmeia Mágica, e Solange Hernandez, empregada da escolinha, também foram acusadas por associação criminosa, perigo de vida e constrangimento no mesmo caso.
O MP e a Polícia Civil estão convictos de que as nove crianças sofreram violência física e psicológica dentro da Colmeia Mágica. Para esses órgãos, além dos vídeos das crianças amarradas, fotos de algumas delas machucadas após saírem da escola e laudos periciais comprovam as lesões.
As três já são rés neste processo na Justiça. As irmãs Serme estão presas preventivamente em Tremembé, interior paulista; Solange responde aos crimes em liberdade. Todas elas negam as acusações.
A audiência de instrução do caso, como é chamada essa etapa do processo antes do julgamento, já ouviu pais das vítimas em 27 de julho e três testemunhas na última sexta-feira (26). Nos dias 13 e 14 de outubro, mais testemunhas darão depoimentos. Por último, estão previstos os interrogatórios das acusadas. Depois caberá à Justiça julgá-las e decidir se as condena ou absolve. Ainda não há data para o julgamento delas.
2º inquérito
Já o segundo inquérito contra a Colmeia Mágica foi aberto em 13 de junho pela polícia a pedido do Ministério Público (MP) e por determinação da Justiça. Ele ainda não foi concluído. A Promotoria quer saber, por exemplo, se a delegacia consegue esclarecer nesta nova investigação se as duas donas e a funcionária da Colmeia Mágica tiveram ajuda de professoras na tortura e nos maus-tratos contra as nove crianças.
O MP ainda pede para a polícia apurar se as 34 novas denúncias realmente aconteceram e quem participou delas. Essas outras queixas haviam sido feitas na delegacia pelos pais dos alunos logo que o caso veio à tona. Mas como elas não foram apuradas a fundo à época, o promotor pediu que o inquérito sobre a escola fosse desmembrado.
Então ele então denunciou à Justiça as três acusadas por crimes contra nove crianças. E pediu a abertura de uma nova investigação para apurar a veracidade das novas denúncias. O MP quer saber se essas outras acusações ocorreram e quem são as responsáveis por elas: seja cometendo os crimes ou sendo conivente com eles, pela omissão em não denunciá-los.
Além de Roberta, Fernanda e Solange, professoras da escolinha também serão investigadas pela polícia para saber se tiveram algum envolvimento.
No primeiro inquérito, as educadoras foram ouvidas como testemunhas e não como investigadas. Naquela ocasião, elas negaram ter participado dos crimes. Haviam dito que presenciaram as cenas de violência e, por este motivo, decidiram denunciar as donas e a funcionária da escolinha.
Elas haviam contado à época que Roberta amarrava as crianças, acreditando que com isso elas parariam de chorar. Segundo elas, a diretora não suportava ouvir choros dos alunos. Segundo os depoimentos, Fernanda era conivente com a situação. Há ainda relatos de que Solange chegou a cobrir a cabeça de um bebê com uma coberta, e ele ficou internado num hospital após sentir dificuldades de respirar.
Procurado pelo g1 para comentar o segundo inquérito policial aberto para investigar a Escola Colmeia Mágica, o advogado André Dias, que defende as irmãs Serme, disse que "a defesa não te acesso a esse inquérito. No mais, esperamos que aponte os verdadeiros criminosos".
A reportagem entrou em contato com a defesa de Solange, mas ela não se pronunciou até a última atualização dessa matéria.
Roberta chegou a confirmar em seu depoimento à polícia que os vídeos foram gravados na sua escola e que as crianças que aparecem lá são seus alunos. Mas negou que as amarrasse ou ordenasse a alguém para amarrá-las. Disse ainda que desconhecia quem teria feito isso. Mas desconfiava que as cenas pudessem ter sido montadas por alguma funcionária insatisfeita para prejudicar ela e sua irmã.
Fernanda também se mostrou surpresa com os vídeos quando foi ouvida na delegacia.
Solange também negou ter cometido algum crime. Além de acusar Roberta de "embalar'" as crianças, a funcionária falou à polícia, e em entrevista à TV Globo e ao g1, que as professoras da Colmeia Mágica eram orientadas pela diretora a fazer o mesmo "procedimento". Ela ainda falou que não ajudou a patroa a amarrar os alunos. E negou que tivesse jogado uma coberta na cabeça de uma criança, a sufocando.