Nesta terça-feira (31), o 'Profissão Repórter', da TV Globo, exibiu uma reportagem na qual flagrou uma suspeita de assédio eleitoral no município a menos de 48 horas da votação de domingo.
Por g1 e Profissão Repórter.
Em Coronel Sapucaia, no extremo sudoeste de Mato Grosso do Sul, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) obtiveram o mesmo número de votos no primeiro turno: 4.254 . Mas, no 2º turno, o atual presidente recebeu 4.530 votos, e o petista, 4.090.
Nesta terça-feira (31), o "Profissão Repórter", da TV Globo, exibiu uma reportagem na qual flagrou uma suspeita de assédio eleitoral no município a menos de 48 horas da votação deste domingo (30). Coronel Sapucaia é uma das três cidades que registrou empate exato entre os dois candidatos.
Enquanto circulava por lá para conversar com moradores, Caco Barcellos e Chico Bahia viram uma concentração de pessoas em frente a um centro cultural local. Os convocados para a reunião eram beneficiários do Auxílio Brasil.
Na manhã desta quarta-feira (2), a Procuradoria Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul informou que irá investigar a denúncia. "Serão solicitadas diligências ao promotor eleitoral de Coronel Sapucaia para instruir o feito", afirmou o Ministério Público Eleitoral no estado.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que Coronel Sapucaia tem cerca de 15,4 mil. Ao todo, são 9.702 eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.
Ao considerar todo o país, Lula obteve 57,3 milhões de votos no primeiro turno, e Bolsonaro 51 milhões. No segundo turno, Lula recebeu 60,3 milhões de votos, e Bolsonaro, com 58,2 milhões. Desde que as eleições presidenciais livres foram retomadas, em 1989, essa é a menor diferença tanto em termos percentuais quanto em números absolutos (2,1 milhões de votos a mais para o ganhador).
Divergências, mas sem agressões
O racha entre Lula e Bolsonaro levou tensão para a convivência entre os moradores de Coronel Sapucaia. Principalmente no ambiente virtual. "Vejo muito bate-boca em redes sociais e muita gente perdendo a amizade. É o que pude perceber, tem muitos grupos de família com brigas e discussões", diz a professora Rosângela Polatha.
Contudo, a convivência presencial não reflete casos de violência política, como ocorreu em partes do país com agressões físicas, ataques a tiros e até mortes.
"As pessoas estão bem divididas por conta da eleição, mas acredito que não tenha briga, não", conta Rita Oliveira, vendedora em uma loja de roupas. "Convivência está mais ou menos, as pessoas têm se estranhado, mas não tem briga. Não tem tido brigas, não", diz o gerente de vendas Antony Bordão.
Agora, nem todo mundo aceita dizer abertamente em quem vai votar no 2º turno. "Não votei Lula ou Bolsonaro no 1º turno e vou votar no 2º. Prefiro deixar [o voto] no particular", responde Antony, quando questionado se será Lula ou Bolsonaro no dia 30 de outubro.
Divisão é característica recorrente
A divisão vista nas urnas ocorre em outros aspectos no município, a começar pela questão territorial -- por fazer fronteira seca com o Paraguai. Uma avenida, a Avenida Internacional, divide os territórios brasileiro e paraguaio -- cidade de Capitán Bado.
Assim como a existência conjunta de duas pátrias, a região convive com a divisão de moedas (real, guarani e dólar), dialetos (português, espanhol, Guaraní e uma espécie de mistura a la portunhol) e as nacionalidades.
A maior parte de seus 1.029 km² é composta por área rural ou terras indígenas, enquanto a parte urbana se limita à extensão e o entorno da avenida principal.
Não é a primeira vez que políticos têm a mesma votação na cidade. Em 2016, duas candidatas ao cargo de vereadora receberam 245 votos: Maria Eloir Flores e Sebastiana Rodrigues, ambas do MDB.
A solução veio da lei, com o desempate a favor da mais velha entre elas, no caso Mari Eloir.
Surpresa com votação exatamente igual
O empate voto a voto de Bolsonaro e Lula chamou a atenção dos próprios moradores. Pelas ruas, eles contam, quem se expressa politicamente indica mais apoio a Bolsonaro do que Lula.
"Vejo mais gente [pró] Bolsonaro, foi surpresa os dois terem voto igual", conta Antony Bordão, sobre os eleitores que se posicionam com camisetas ou bandeiras durante a campanha eleitoral.
A professora Rosângela Polatha afirma que pode não haver tanta campanha explícita nas ruas, que "não se manifestam diretamente. Quando conversa, elas dizem. Foi isso que fez diferença no final", afirma.
Para ela, os bolsonaristas e lulistas tiveram temas claros para definir o voto. "As pessoas estavam bem neutras, as pessoas de idade foram que mais votaram no candidato Lula. Por questões de preços, muita alta no preço das coisas, inflação, não conseguir comprar comida", diz Rosângela.
"O presidente teve votos por conta do agronegócio, são mais esses setores que votam Bolsonaro. O pessoal cita porte de arma, coisas que são vantagem para eles. Melhorou para eles isso, muito", cita.
Na aldeia Taquaperí, formada pelas etnias Guarani e Guarani Kaiowá, não houve divisão. É o que defende o professor Amaro de Souza Rocha, morador da região.
"Aqui na minha comunidade de Taquaperí, no município de Coronel Sapucaia, a gente sempre é unânime nesse quesito de política e nas ações sociais de governo que o Lula fez. A minha comunidade, minha família foi unânime na eleição, não tivemos divergências políticas", diz.
Já no centro da cidade, a avaliação é mais pró-Bolsonaro. "Na verdade, aqui a grande maioria que a gente vê se expressar nas ruas é Bolsonaro. A grande maioria é de pessoas que estão mais em igreja, trabalham no centro, esses que apoiam mais Bolsonaro", afirma a vendedora Rita Oliveira.
Para o comerciante Junior Machado, que atua como assessor político no município, as características locais de divisão pesaram para a igualdade Lula e Bolsonaro. "A mesma quantidade de votos de lulistas e bolsonaristas talvez seja o bom trabalho durante a campanha dos dois times. Depois do futebol, a política seja o nosso esporte favorito aqui", diz.