Quantidade de pessoas em situação vulnerável ultrapassou 10% da população no fim de 2021, segundo levantamento da FGV.
Por GloboNews.
Um levantamento publicado pela FGV mostrou que o número de pessoas em situação de vulnerabilidade aumentou no Brasil no fim do governo Bolsonaro. A fome chegou a atingir 29,2 milhões de brasileiros no final de 2021, em números só superados pelos do início da pandemia, em 2020.
No período após a pandemia, foi o maior número de pessoas afetadas pela fome no Brasil, com 29,2 milhões de brasileiros — Foto: Reprodução/GloboNews
O IBGE divulgou um estudo na última semana que mostrou uma queda na desigualdade no Brasil, chegando ao menor nível em 11 anos. Os motivos para isso foram a melhora no mercado de trabalho e o aumento do valor do Auxílio Brasil, programa social promovido pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Apesar disso, ao cruzar este estudo do instituto com os dados da Pesquisa Nacional por Domicílios (Pnad), da Pesquisa de Orçamentos Familiares e com os dados da inflação, o estudo verificou que mesmo com o aumento de renda de parte de brasileiros em virtude destes programas sociais, parte da população ainda não consegue ter o suficiente para garantir uma alimentação saudável. E o principal motivo é a inflação alimentar.
No final de 2021, o número de brasileiros que viveram algum tipo de insegurança alimentar chegou a 29,2 milhões – o que representa mais de 10% da população do país. Entre o fim de 2018 e o primeiro trimestre de 2019, o número era de 25,6 milhões. A quantidade deu um salto após o início da pandemia, chegando a 31 milhões, e mesmo após a aplicação dos fatores econômicos citados pelo IBGE, que aumentaram a renda de parte da população do país, o alto custo dos alimentos fez aumentar a fome entre o fim de 2021 e o começo de 2022.
Daniel Duque, responsável pelo estudo do FGV, afirma que o aumento do valor dos alimentos supera a redução da desigualdade, uma vez que fatores como a Guerra da Ucrânia, problemas na produção e outros fizeram com que o aumento no setor de alimentos e bebidas chegasse a 40%. E a alta atinge mais fortemente as populações mais baixas, que não têm recursos para se alimentar com o que é mais básico.
“Certamente são questões correlacionadas, mas a gente está falando de fenômenos diferentes", explica Duque.
"Claro que a gente não quer uma distância entre ricos e pobres muito grande, então a gente tem que se preocupar com a desigualdade e tem que comemorar quando ela cai. No entanto, isso não significa que porque a gente observou um aumento da desigualdade que houve também necessariamente uma redução do número de pessoas em insegurança alimentar", argumenta.
Para o analista da FGV, a grande questão está na diferença entre o aumento da renda da população e o aumento dos alimentos, provocado pela inflação neste setor - que foi muito maior que nos outros.
"Isso vai depender da renda das pessoas, mas também do preço dos alimentos, e como a renda daquelas pessoas que estão no limiar mais baixo da sociedade vai funcionar com a alimentação”, concluiu.