Cerca de 1.000 homens das polícias Civil e Militar foram para a Vila do João e a Vila dos Pinheiros, comunidades da Maré dominadas pelo Terceiro Comando Puro, rival do Comando Vermelho. Agentes também voltaram à Cidade de Deus, um dos alvos desta segunda-feira (9).
Por Rafael Nascimento, TV Globo e g1 Rio.
As forças de segurança iniciaram nesta terça-feira (10) o 2º dia de operações conjuntas contra o tráfico de drogas no Rio. Pela manhã, policiais retomaram, no Complexo da Maré, o clube que tinha sido transformado em um “centro de treinamento tático”.
Desta vez, cerca de 1.000 homens das polícias Civil e Militar foram para comunidades da Maré dominadas pelo Terceiro Comando Puro (TCP), facção criminosa responsável pelas “aulas”. A operação é em 8 localidades, entre elas a Vila do João e a Vila dos Pinheiros. São 54 mandados de prisão a cumprir.
“É uma resposta do Estado principalmente por devolver esse espaço público, que ficou emblemático com a piscina, aos moradores, às crianças e à comunidade”, disse José Renato Torres, secretário da Polícia Civil, ao g1. “Ontem atacamos uma facção e hoje estamos atacando outra. O cerco acontece desde a madrugada”, emendou.
Outros endereços
Agentes também voltaram à Cidade de Deus, um dos alvos desta segunda-feira (9), e foram para o Complexo da Pedreira — ali, a fim de pegar os homens que detonaram uma bomba caseira em um ônibus.
No 1º dia, após intensos tiroteios em diferentes pontos da capital — controlados pelo Comando Vermelho (CV) —, 9 pessoas foram presas, entre elas um PM. Dois corpos foram levados para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não se sabia se havia relação com a operação. Além disso, 2 helicópteros acabaram atingidos por tiros e tiveram de pousar.
O centro de treinamento
O Fantástico de 24 de setembro exibiu o resultado de uma investigação sobre o “curso prático de táticas de guerrilha”.
A investigação da Polícia Civil, que durou dois anos, reuniu imagens de bandidos fortemente armados recebendo treinamento em vários momentos do dia, inclusive à noite com simulação de uso de bombas.
Os agentes identificaram pelo menos 400 bandidos do TCP da área do clube. A Polícia Civil monitorou, no total, 1.125 traficantes, milicianos e pessoas ligadas às atividades criminosas na Maré. Eles foram indiciados por tráfico de drogas, associação para o tráfico e organização criminosa.
Um complexo, várias facções
Várias facções estão no Complexo da Maré, que tem mais de 140 mil moradores. De acordo com o mapeamento dos policiais, o Terceiro Comando Puro domina a maior parte da região, inclusive o centro de treinamento.
O TCP controla a Vila do João, Vila dos Pinheiros, Conjunto Pinheiro, Bento Ribeiro Dantas, Salsa e Merengue, Baixa do Sapateiro, Conjunto Esperança e Timbau.
As comunidades da Nova Holanda e Parque União estão sob o jugo do Comando Vermelho, outra facção de traficantes e alvo da operação de segunda-feira.
A Maré ainda tem uma parte tomada por milicianos: Roquete Pinto e Piscinão de Ramos.
Como foi o 1º dia
Nesta segunda-feira (9), cerca de 1.000 homens das polícias Civil e Militar tentaram prender os principais chefes do Comando Vermelho (CV), a maior facção do tráfico de drogas do estado. Equipes foram para a Maré, para a Penha e para a Cidade de Deus, comunidades dominadas pelo CV.
A ofensiva era uma resposta à morte dos 3 médicos na Barra da Tijuca, na semana passada, e para tentar conter disputas com milicianos por territórios na Zona Oeste do Rio.
Inicialmente, o governo do RJ tinha informado que os agentes saíram com “pelo menos 100 mandados de prisão”. À noite, quando saiu o balanço da operação, o número foi corrigido para 60, dos quais 6 foram cumpridos — outros 3 foram pegos em flagrante.
Homens do Bope e da Core (tropas de elite da Civil e da PM) e de delegacias especializadas foram para as seguintes localidades:
- Complexo da Penha: Vila Cruzeiro;
- Complexo da Maré: Nova Holanda e Parque União;
- Cidade de Deus.
Crianças sem aula
A megaoperação policial provocou o fechamento de 70 unidades de ensino municipais e estaduais, afetando 23.360 alunos.
A maioria das unidades que tiveram o funcionamento afetado é da Secretaria Municipal de Educação. A pasta comunicou que 66 escolas foram fechadas. Dentre essas, apenas 9 fizeram atendimento remoto.
Já a Secretaria de Estado de Educação informou que precisou parar as atividades em 4 unidades.
Na Escola Municipal Vereadora Marielle Franco, no Conjunto Esperança, na Maré, policiais civis encontraram um fuzil, drogas e carregadores.
Droga superponte
Registro de apreensão feito na Nova Holanda — Foto: Divulgação Governo do Estado do RJ/Rogério Santana
Também no 1º dia, forças de segurança apreenderam o que seriam amostras de fentanil, um anestésico 50 vezes mais viciante que a heroína e 100 vezes mais forte do que a morfina. O material estava em uma casa na Nova Holanda e foi levado para a Cidade da Polícia, onde passará por perícia.
Se confirmada, essa será a primeira apreensão de fentanil no Rio de Janeiro, droga que virou epidemia nos Estados Unidos e mata quase 300 pessoas por dia.
O fentanil já havia aparecido no Brasil em uma apreensão, em março deste ano, no Espírito Santo, realizada pela Polícia Civil daquele estado.
O balanço do 1º dia
Locais descobertos
- Um laboratório de refino de drogas e fabricação de explosivos no Parque União;
- Um depósito de medicamentos, drogas e material para preparo na Nova Holanda.
Barricadas retiradas
- 29 toneladas de barreiras no Parque União e na Nova Holanda.
Drogas apreendidas
- Aproximadamente 100 quilos de pasta-base de cocaína em um galpão próximo à Vila Cruzeiro;
- Mais de meia tonelada de maconha e drogas sintéticas.
Armamento apreendido
- 1 fuzil 7.62;
- 1 simulacro;
- Dezenas de artefatos explosivos.
Veículos recolhidos
- 33 motos e carros.
Atuação da Seap nos presídios
- 58 aparelhos celulares apreendidos em Bangu 3 e Bangu 4.
- 1 quilo de entorpecente recolhido.