Caso João Paulo é dos crimes mais emblemáticos da história de Piracicaba (SP). Após 35 anos, jornalista Rodrigo Pereira teve acesso à íntegra do processo e obteve depoimentos e revelações exclusivos.
Por Rodrigo Pereira, g1 Piracicaba e Região.]
O g1 Piracicaba lançou nesta quarta-feira (31) o podcast “Medo do Escuro - O Caso João Paulo”, que revisita um dos crimes mais emblemáticos da história de Piracicaba (SP).
A série, com seis episódios semanais, mergulha nas investigações sobre a morte de João Paulo Brancalion, um garoto de 9 anos que foi encontrado morto dentro do freezer de um colégio católico tradicional da cidade, durante um almoço de Natal, no dia 17 de dezembro de 1989.
A reportagem teve acesso às 1,8 mil páginas do inquérito policial e dos processos do caso e mostra em detalhes o que o levou a se arrastar por 13 anos até o julgamento. Entre os principais entraves, estão informações desencontradas, como laudos com resultados diferentes e depoimentos contraditórios, além de uma série de teses e suspeitas que não levavam a uma conclusão.
O podcast terá novos episódios toda quarta-feira, no portal , no globoplay e nas principais plataformas de áudio. Eles também serão acompanhados por reportagens com vídeos de entrevistas e reportagens da época, além de arquivos da investigação e processo judicial.
Conteúdo exclusivo
A série em áudios traz, ainda, entrevistas exclusivas com quem teve relação com o caso, que mostram desde os impactos emocionais que a tragédia ainda causa até relatos inéditos.
“Foi logo após o almoço, à tarde, já estava um alvoroço de gente em frente ao colégio, e vendo a notícia que tinha sido encontrada uma criança morta dentro de um freezer. Foi uma coisa assim muito chocante pra todo mundo, porque ninguém imaginava nem como aquilo tinha acontecido. Depois, a gente foi saber que era nosso amigo, o João Paulo”, relembra Assis Fernando de Mello, que era um dos melhores amigos de João Paulo.
Freezer onde foi encontrado o corpo de João Paulo — Foto: Reprodução/ Poder Judiciário
Perguntas sem respostas
No ano em que a morte de João Paulo completa 35 anos, o caso ainda é lembrado tanto pelas circunstâncias do crime quanto pelas inúmeras perguntas sem respostas.
“Ficou um clima de dúvida, pra saber alguma resolução, sobre o que teria realmente acontecido naquele dia”, afirma Assis.
“O tempo passou e eu percebo que aqueles que se lembram da situação, dos fatos, continuam com a tristeza no coração, primeiro pela violência e pelo crime, e segundo pela impunidade. Não se trata de vingança, mas sim de justiça e de honrar a memória do garoto e o respeito da sua família também e a comunidade em geral”, afirma o escritor Ademir Barbosa Júnior, conhecido como Dermes, que estudava no mesmo colégio que João Paulo.
Sapatos e roupas de João Paulo foram encontrados arrumados ao lado do corpo — Foto: Reprodução/ Poder Judiciário
Além da dor causada à família e amigos, a falta de respostas também alimentava especulações e boatos.
"Vinha muita notícia falsa, muita informação falsa [...] Havia boato de que ele se trancou ali por um acidente. Isso não seria possível", relembra o delegado José Maria Franchim, que concluiu o inquérito.
“As pessoas estavam sofrendo com aquilo porque não tinha um final. Claro que não seria um final feliz, mas seria assim: 'olha, existe um culpado, existe o mandante ou assassino que matou uma criança de 9 anos'”, diz o jornalista Miromar Rosa, que cobriu o caso.
A repercussão nacional do crime e o fato de ter ocorrido em um colégio tradicional da cidade também levaram a sociedade a cobrar uma solução .
“Foi uma grande comoção na cidade porque muitas pessoas, muitos profissionais passaram pelo colégio [...] Aquilo era terrível para a cidade, para os pais e todos aqueles que se dizem cristãos. Enfim, para a cidadania tinha que dar uma satisfação", relembra José Silvestre da Silva, que foi advogado da família da vítima.
Em nota ao g1, o Colégio Dom Bosco afirmou que “se pauta pela transparência nas relações mantidas com os diversos públicos” e “tem uma trajetória de posicionamento ético nas mais diversas situações”.
E informou que a atual diretoria da instituição assumiu as atividades em 2021 e, sempre que solicitada, tem se pronunciado sobre as mais diversas questões que envolvam o colégio e toda a comunidade escolar.
Em relação à morte de João Paulo, apontou que se solidariza com a dor dos familiares e amigos e que sempre prestou auxílio à família e às autoridades.