Vírginia Fonseca está compartilhando nas redes sua rotina com dieta à base de ovo para perda de peso após a gestação. Especialistas apontam que dieta pode ser um risco à saúde e não ser aliada na perda de peso.
Por Poliana Casemiro, g1.
A influenciadora Virgínia Fonseca divulgou que está fazendo uma dieta à base de ovos para a perda de peso. Nas redes sociais, ela compartilha as fotos de seu almoço e jantar que se resumem a mais de uma dezena de claras de ovos e já disse que está tendo resultados. ️ O g1 conversou com nutricionistas que alertam que esse tipo de dieta é arriscado para a saúde, pode causar o efeito sanfona e traz risco de gatilho para transtornos alimentares.
➡️ Não é de hoje que o ovo é famoso em dietas. Gracyanne Baborbosa, influenciadora fitness, já mostrou que usa uma grande quantidade de ovos na dieta para o ganho de massa muscular. Agora, ele parece estar na moda para a perda de peso. Mas, será que isso funciona mesmo?
O que nutricionistas com quem o g1 conversou explicam é que o ovo é um alimento saudável, uma boa fonte de proteínas e ótima opção tanto para quem quer perder peso quanto para quem quer ganhar músculos, mas de forma nenhuma em dietas feitas exclusivamente com ovos.
? ATENÇÃO: Muito além da perda de peso ou ganho de massa magra, o que especialistas questionam é que dietas restritivas não são boas para a saúde física e mental. Há várias pesquisas que indicam que a restrição acaba gerando a compulsão, o que pode ser gatilho para transtornos alimentares. Além disso, reforçam que o retorno de dietas restritivas como tendência é um sinal de alerta.
Uma dieta só com ovo pode fazer perder peso ou ganhar passa magra?
O que a nutricionista Giuliana Guarnieri explica é que a perda de peso tem vários fatores, mas a estratégia principal é de ‘déficit calórico’, ou seja, ingerir menos caloria do que se gasta no dia a dia. No caso desse tipo de dieta, é possível que haja redução de calorias e a pessoa acabe perdendo peso, mas não de forma saudável.
“Qualquer dieta onde a gente tenha uma exclusão importante de um grupo alimentar, seja carboidrato, seja gordura, como, por exemplo, essa dieta do ovo, vai fazer com que em um primeiro momento a pessoa perca peso. Só que com isso, a pessoa acaba também excluindo nutrientes importantes da alimentação e isso é muito prejudicial”, explica Giuliana.
No caso de Virgínia, ela vem compartilhando uma rotina intensa de treinos com personal. Às vezes, com mais de um treino por dia. O que a especialista alerta é que pensar que o ovo pode ajudar no ganho de massa faz sentido, já que ele é uma fonte de proteína, mas não faz sentido em uma dieta apenas com ovos.
“Os ovos podem auxiliar na construção, reparo de massa muscular. Porém, para que isso aconteça, até para que a pessoa consiga realizar bons treinos e construir essa musculatura, a gente também precisa de vários outros nutrientes, até mesmo do carboidrato. Ou seja, uma dieta baseada apenas no consumo dele não é eficaz”, explica.
A nutricionista Renata Farrielo reforça que o ovo pode sim ajudar na construção de massa magra, mas que os músculos não vão aumentar pela ingestão de um único alimento.
“O ganho de massa muscular depende de vários fatores como estímulo para o músculo, consumo adequado de carboidratos para ter energia para fazer os exercícios, quantidades de proteínas, sono de boa qualidade, boa hidratação. Ou seja, não é só aumentar a quantidade de ovos que consome”, explica.
Uma dieta só com proteína pode ser prejudicial à saúde?
Renata Farrielo explica que o corpo precisa de vários nutrientes para manter o funcionamento saudável e que a restrição de um só grupo pode causar problemas graves de saúde.
A especialista cita problemas como a desregulação da flora intestinal e causar constipação, já que não há o consumo de fibras necessárias. Problemas como cálculo renal pelo excesso de proteína e outros problemas de saúde pelo déficit de outros nutrientes.
“Apesar do ovo ser um alimento que pode fazer parte de uma alimentação equilibrada, ele em excesso não é saudável”, explica.
Giuliana Guarnieri reforça que as pessoas não devem trocar uma alimentação completa por um prato de ovos porque não é porque um alimento é saudável que ele pode ser consumido exclusivamente.
“A clara de ovo é um alimento rico em proteína, rico em algumas vitaminas, minerais, porém, ainda assim, não substitui uma refeição completa. Então, a longo prazo, com o consumo apenas da clara de ovo, nós temos a exclusão de outros minerais, de outros macronutrientes essenciais para o funcionamento do nosso corpo. Isso pode prejudicar desde o intestino até mesmo o sistema nervoso central. É um risco à saúde”, explica.
Dietas restritivas como a do ovo podem causar efeito sanfona?
O que as nutricionistas explicam é que um déficit calórico como esse não é possível de manter. Uma pessoa não consegue comer só claras de ovo para sempre todos os dias. Com isso, a perda que ocorre pela restrição, volta depois que é retomada a alimentação completa. (Entenda abaixo como uma dieta restritiva age no corpo)
“Ninguém consegue manter a longo prazo uma alimentação onde tem o consumo apenas de ovos, ou então só de claras de ovos. E daí como isso não é sustentável, no primeiro momento o paciente perde peso, mas logo em seguida ele ou tem episódios de compulsão alimentar ou volta a alimentação normal e ganha todo o peso que ele perdeu. Isso se não não ganhar mais peso do que ele tinha anteriormente”, explica.
Com isso, o que acontece é que a pessoa acaba entrando em um ciclo de perda e ganho de peso de forma cíclica e o que as nutricionistas explicam é que a perda só se mantém se o emagrecimento for feito com acompanhamento e de forma saudável.
Na rede social, só se mostra o que se quer
Virgínia conta que ganhou mais de 20 kg com a maternidade e, dois meses depois de ter o bebê, já exibe a barriga trincada em suas redes sociais, onde também compartilha a dieta. As especialistas reforçam que a mudança no corpo pós maternidade é um ponto sensível, é preciso entender o tempo de cada corpo e as condições de cada mulher.
No caso da influenciadora, ela diz que tem procedimentos estéticos, acompanhamento profissional e exercícios físicos até mais de uma vez ao dia. Essa não é a realidade da maioria das mães.
“Nessa fase, que é também de amamentação, não é recomendado fazer dietas restritivas, já que é um período que o corpo da mulher está produzindo o leite materno e está com muitas mudanças hormonais devido a gestação. Essa cobrança extrema para voltar ao corpo de antes ‘para ontem’ é perigosa para a mãe e para o bebe”, alerta Renata Farrielo.
Dietas restritivas são um alerta para transtornos alimentares
Depois que a influenciadora compartilhou que está fazendo a dieta à base de ovo, outras também aderiram à restrição. Uma delas é a namorada do filho de Luciano Huck, Duda Guerra, de 16 anos, que anunciou que também ia seguir a dieta e compartilhou imagens do seu prato de claras de ovos.
Há várias pesquisas que relacionam dietas restritivas a compulsão e transtorno alimentar:
- ? Uma pesquisa do departamento de psiquiatria da Universidade de Melbourne, na Austrália, analisou 2,2 mil adolescentes. Do grupo, 42% das meninas faziam dieta e para os meninos o índice era de 12%. Segundo a análise, a exposição dessas pessoas à dieta e restrição alimentar (como reduzir a ingestão de carboidratos, contar calorias e pular refeições) aumentou em 18 vezes a chance de desenvolver um transtorno alimentar.
- ? Um estudo publicado em 2022 feito pelo departamento de Saúde Mental Comunitária, da Universidade de Haifa, em Israel, apontou a relação entre a restrição alimentar e desejo por comida e emoções negativas. A pesquisa observou 123 pacientes e percebeu que quanto mais exposta a restrição, mais sujeita a pessoa estava a sentimentos como desejo por comida, fome, emoções negativas.
O que as nutricionistas alertam é que a restrição pode ser gatilho para transtornos alimentares e que é preciso cuidado com a influência nas redes pela pressão de corpos em padrões cada vez mais magros.
Fariello é especialista em transtorno alimentar e alerta que a dieta do ovo não é uma novidade, assim como a dieta da sopa e da carne, que já ganharam fama nos anos 90 e 2000, quando havia a tendência de um corpo extremamente magro. Ela cita que o retorno desse tipo de restrição mostra que a moda por esse biotipo esteja de volta e que é um risco à saúde física e mental.
“Vivemos em uma sociedade imediatista, que valoriza muito a estética e a magreza. Estamos vendo a volta da magreza extrema e isso dá margem para surgirem soluções milagrosas. A questão é que esses comportamentos trazem o aumento de transtornos alimentares e comer transtornado, aumento da obesidade porque muitas vezes tem o efeito sanfona, grande insatisfação corporal, e até depressão”, pontua.