Quarta, 31 Julho 2019 09:13

PF visitou área guiada por filho de indígena morto no AP; inquérito investiga denúncia de invasão

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Por Fabiana Figueiredo, G1 AP — Macapá.

Polícia Federal visitou terra indígena Waiãpi no domingo e investiga morte de líder indígena e possível invasão de reserva no Amapá — Foto: PF/Divulgação

 

A Polícia Federal (PF) se pronunciou oficialmente nesta terça-feira (30), por meio de nota, sobre a investigação da morte do líder indígena Emyra Waiãpi e a possível invasão de garimpeiros em terras indígenas Waiãpi, no Oeste do Amapá. A situação de tensão, que já estaria acontecendo desde o início da semana passada, foi denunciada pelos índios no sábado (27).

 
Não há sinais de invasão em aldeia indígena no Amapá, diz PF

Não há sinais de invasão em aldeia indígena no Amapá, diz PF

Como o Exército, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) já haviam informado na segunda-feira (29), a PF declarou que não encontrou indícios de invasão.

  • Veja perguntas e respostas sobre a situação

Um inquérito policial foi instaurado pelo órgão, que confirma, segundo a nota, que “as investigações continuam em andamento com o objetivo de apurar todas as circunstâncias da morte do líder Emyra Waiãpi e da suposta invasão da reserva indígena”.Delegado, agentes e peritos foram conduzidos por indígenas em áreas suspeitas — Foto: PF/Divulgação

Delegado, agentes e peritos foram conduzidos por indígenas em áreas suspeitas — Foto: PF/Divulgação

Um delegado, agentes e peritos criminais da PF foram até a área no domingo (28), com apoio da Companhia de Operações Especiais (COE), do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar (PM) do Amapá.

De acordo com a nota, a polícia foi guiada na região pelo próprio filho do cacique, o índio Aikyry. Ele foi um dos indígenas que afirmaram que o líder morreu em confronto com os invasores.

As diligências, detalha a PF, ocorreram na aldeia Mariry, onde “não foram encontrados invasores ou vestígios da presença de não-índios nos locais apontados pelos denunciantes”. Foi nessa aldeia que os índios se concentraram ao se sentirem ameaçados na última semana.

Segundo o MPF, foram até a área 26 agentes da PF e da PM. Ainda de acordo com o órgão ministerial, a PF deve concluir até sexta-feira (2) o relatório da visita realizada no domingo.

 PF investiga morte de líder indígena e possível invasão de reserva no Amapá — Foto: PF/Divulgação

PF investiga morte de líder indígena e possível invasão de reserva no Amapá — Foto: PF/Divulgação

 

A nota lembra que, “segundo relatos, cerca de 50 homens fortemente armados teriam invadido as terras indígenas, no oeste do estado, e assassinado um líder comunitário da aldeia”.

A PF ressaltou que os policiais envolvidos na ação “percorreram uma grande área” junto à equipe do COE, “referência no estado em rastreamento e combate em áreas de mata, e nada foi encontrado”.

Entrevista coletiva

O MPF declarou que, apesar de não haver indícios de invasão na aldeia Waiãpi, a conclusão parcial das investigações da PF não descarta nenhuma linha de investigação, porque as circunstâncias ainda não foram esclarecidas.

Não foram descartadas outras diligências, detalhou o MPF, a exemplo de envio de helicóptero e outras analises necessárias. O MPF adiantou que vai ser aberto um processo criminal para apurar a morte do indígena.

 Coletiva MPF AP sobre morte e conflito na aldeia Waiãpi — Foto: Rita Torrinha/G1

Coletiva MPF AP sobre morte e conflito na aldeia Waiãpi — Foto: Rita Torrinha/G1

Na segunda-feira, o Conselho das Aldeias Wajãpi - Apina divulgou nota relatando que os indígenas continuam preocupados com a situação.

"Nas aldeias desta região as famílias estão com muito medo de sair para as roças ou para caçar. Algumas comunidades saíram de suas aldeias para se juntar com famílias de outras aldeias para se sentirem mais seguras. Por isso nossos guerreiros de todas as regiões da TIW estão se organizando para ajudar os guerreiros da região do Mariry, que continuam procurando os invasores, e pedimos apoio da Funai para isso", diz a nota.

 

Sobre a saída dos indígenas das suas terras, o Ministério Público não soube informar. Disse que nas regiões onde os representantes levaram os policiais não havia vestígios de desocupação, de que os habitantes teriam saído às pressas.

Investigação

 As duas situações, denúncia de invasão e morte, são investigadas com cautela — Foto: PF/Divulgação

As duas situações, denúncia de invasão e morte, são investigadas com cautela — Foto: PF/Divulgação

A Funai e a PM do Amapá confirmaram que um cacique foi morto na região na última semana. As duas situações, denúncia de invasão e morte, são investigadas com cautela pelo MPF, pela Funai e pela PF.

Segundo o Exército, a PF investigou os possíveis rastros de garimpeiros, com uso de peritos florestais, drones e outros equipamentos. Tropas do Exército não chegaram a ser enviadas para a terra indígena.

Matheus Leitão, do blog de política do G1, citou que, segundo a antropóloga Dominique Tilkin Gallois, professora da Universidade de São Paulo (USP) e com trabalhos há mais de 30 anos sobre a região, as invasões ocorrem desde 1971, antes mesmo da instalação de um posto da Funai na região.

Na segunda-feira, o presidente da República, Jair Bolsonaro, disse que não há 'indício forte' de que o índio morto tenha sido assassinado. Ele comentou ainda que tem a "intenção" de regulamentar o garimpo no país, plano que inclui a liberação da atividade em terras indígenas.

 

Também na segunda-feira, a alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, condenou a morte de Emyra Waiãpi. Ela ainda pediu a Bolsonaro que reconsidere sua proposta de abrir mais áreas da Amazônia para mineração, de acordo com a Reuters.

MortePrimeiras investigações não apontam invasão de terra no Amapá

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A vítima foi identificada como Emyra Waiãpi. Ele tinha 62 anos, era um dos líderes do povo Waiãpi e o corpo tinha marcas de perfurações e cortes na região pélvica, segundo a PM.

A morte do líder indígena ocorreu em 23 de julho, mas as autoridades de segurança foram alertadas apenas no sábado.

Segundo nota do Conselho das Aldeias Waiãpi - Apina, “a morte não foi testemunhada por nenhum Waiãpi e só foi descoberta na manhã seguinte [23 de julho]”.

A entidade citou que foram encontrados rastros no entorno da aldeia que indicam que a morte do líder indígena foi causada por “não-indígenas”. O conselho relata que houve a invasão de homens que se instalaram em uma das casas da aldeia Mariry.