Robert Ruan era trabalhador terceirizado da Vale e tinha 19 anos. Corpo foi encontrado neste sábado (19).
Por Naiana Andrade, Raquel Freitas e Thaís Leocádio, G1 Minas — Belo Horizonte.
Robert Ruan tinha 19 anos e estava na mina do Córrego do Feijão no momento em que a barragem se rompeu — Foto: Redes sociais/Reprodução
"Eu tenho certeza de que ele estava com medo. Não teve nem o prazer de engolir a comida. Estava almoçando. A Vale acabou com todo mundo", disse a mãe de Robert Ruan Oliveira Teodoro, de 19 anos, trabalhador terceirizado da Vale, cujo corpo foi encontrado neste sábado (19), em Brumadinho. Ele estava usando o crachá da empresa.
O Corpo de Bombeiros confirmou que o jovem é a 252ª vítima do desastre ocorrido no dia 25 de janeiro a ser identificada. Agora, as buscas seguem por 18 pessoas desaparecidas. A Polícia Civil informou que a identificação foi feita por meio de exames de impressões digitais.
"É outro terremoto na cabeça da gente. Um foi no dia 25, outro hoje. Esperança de ele voltar eu já não tinha mais. Deus ainda teve misericórdia e me mandou ele inteiro", afirmou a doméstica Iolanda de Oliveira Silva, de 49 anos, mãe de Robert.
Robert Ruan era gêmeo. Mas, três meses antes da tragédia, o irmão, Richard Rean Oliveira Teodoro, foi brutalmente assassinado em um triplo homicídio. Além do jovem, morreram a namorada dele, que tinha 13 anos, e a mãe da garota, que tinha 35.
Os gêmeos fariam 20 anos no dia em que a tragédia completou quatro meses. Segundo a mãe deles, Robert havia dito que estaria minando água da barragem, mas ela conta que, naquele momento, achou que isso seria normal.
"Completou 20 anos debaixo da lama, tadinho. Onde eu vou, eu lembro dos meus filhos. Eles estão em todo canto, na quadra, eles ficavam sentadinhos na rodoviária... Em tudo eles vão estar. Não pretendo ficar aqui. Eu não consigo passar pela Alberto Flores", relatou Iolanda.
Crachá de Robert Ruan foi encontrado com o corpo dele, em Brumadinho — Foto: Arquivo pessoal
Segundo a Vale, a barragem tinha “todas as declarações de estabilidade aplicáveis e passava por constantes auditorias externas e independentes”. Ainda de acordo com mineradora, havia inspeções quinzenais, reportadas à Agência Nacional de Mineração (ANM).
“Em nenhuma dessas inspeções foram detectadas anomalias que apontassem para um risco iminente de rompimento da barragem”, afirmou a empresa.
Para suportar tanto sofrimento, a doméstica, que teve que se afastar do trabalho, precisa tomar diversos medicamentos por dia, como antidepressivos.
"A última lembrança que eu vou ter é de quando ele saiu de casa, naquele dia. Ele me deu bênção, mandou levar a bolsinha dele na rodoviária, para ele ir para a casa da namorada. Essa é última lembrança dele”, disse
Em três meses, Iolanda perdeu os dois filhos gêmeos — Foto: Raquel Freitas/G1
Localização do corpo
Bombeiros localizaram corpo em Brumadinho neste sábado (19) — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
O corpo foi encontrado na manhã deste sábado. Segundo o porta-voz do Corpo de Bombeiros, tenente Pedro Aihara, ele estava íntegro e foi localizado a cerca de 3 metros de profundidade, em uma área chamada pelos militares de "Remanso 3". Segundo ele, esta área fica entre a barragem B1, que se rompeu no dia 25 de janeiro na mina do Córrego do Feijão, e o Rio Paraopeba.
Aihara afirma que as buscas neste local eram dificultadas pelo acúmulo de destroços, a exemplo de eixos de caminhão e pedaços de trator.
O tenente destaca a satisfação dos militares no encontro de cada corpo resgatado.
"Sinceramente, é uma sensação de dever cumprido com aquilo que a gente tinha prometido para as famílias. Só quando você acredita muito no trabalho, com a equipe muito motivada e comprometida, você consegue encontrar um corpo com 268 dias de busca", afirmou.
O corpo foi encontrado às 10h18 deste sábado, após busca visual com apoio de máquinas. "O 'Remanso 3' já era considerado uma área de prioridade graças ao trabalho de inteligência, o que mostra que o trabalho está sendo bem assertivo", disse o tenente.
Corpo de Robert Ruan, de 19 anos, foi identificado pela Polícia Civil neste sábado (19) — Foto: Arquivo Pessoal
As buscas pelas vítimas da tragédia da Vale chegam a 268 dias sem interrupções. A operação é considerada a maior já realizada no país.
Segundo o Corpo de Bombeiros, as buscas, neste sábado, mobilizam 138 militares, divididos em 18 frentes de trabalho.
De acordo com Aihara, a estimativa é que aproximadamente cerca de 2,5 mil bombeiros já tenham atuado em Brumadinho nestes quase nove meses de trabalho. Com a aproximação do período de chuvas, novas estratégias passam a ser adotadas na área do desastre.
“Priorizar profundidades de até três metros, escavando uma área maior em termos superfície, já é uma estratégia influenciada pelo período chuvoso, já que essa superfície vai sofrer alteração mais significativa por causa das chuvas”, explicou.
O tenente afirma que não há previsão para que as buscas sejam encerradas. Segundo ele, os trabalhos devem prosseguir enquanto houver viabilidade para que os corpos sejam localizados ou até que todas as vítimas sejam identificadas.