Ato do Greenpeace é em referência a manchas de óleo no litoral; ONG também simulou queimadas na Amazônia. Governo fala em 'depredação do patrimônio público'.
Por Carolina Cruz, G1 DF
Ativistas ambientais do Greenpeace jogaram tinta preta na entrada do Palácio do Planalto, em Brasília, na manhã desta quarta-feira (23). O ato simula as manchas de óleo que, desde setembro, atingem o litoral nordestino.
Segundo a Polícia Militar, 30 manifestantes foram detidos. O grupo foi levado para delegacia após o DF Legal – órgão de fiscalização do governo local – notificar os organizadores por descarte irregular de lixo em área pública (entenda abaixo). Os ativistas foram liberados às 13h.
Ativistas do Greenpeace foram levados para 5ª Dp, na Asa Norte — Foto: Carolina Cruz/TV Globo
Vestido de preto, o grupo levantou faixas com críticas à "lentidão" do governo federal para conter as manchas nas praias. Os manifestantes posicionaram barris em frente à sede da Presidência da República – simulando recipientes de petróleo – e espalharam areia sobre uma lona azul, para representar o mar. Em seguida, despejaram um líquido preto, mistura de óleo e tinta.
Em nota, a Presidência da República afirmou que não vai comentar o ato. O Ministério do Meio Ambiente disse ao G1 que houve "depredação do patrimônio público".
"Não bastasse não ajudar no esforço de limpeza das praias, o Greenpeace ainda depreda patrimônio público.”
Ativistas simulam manchas de óleo em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília — Foto: Carolina Cruz/G1
O protesto
Cerca de 20 pessoas participaram da manifestação. O porta-voz de clima e energia da ONG, Tiago Almeida, afirma que o objetivo é "chamar a atenção das autoridades e da população para a importância da gestão responsável dos recursos ambientais".
"O governo precisa colocar em prática, de maneira efetiva e correta, o Plano Nacional de Contingência, combater esse óleo e proteger as populações que estão sendo afetadas", disse. "As pessoas estão colocando a própria saúde em risco."
"Precisamos encontrar o local de origem desse óleo e entender o que está acontecendo."
O grupo chegou por volta das 8h e montou um telão próximo à Praça dos Três Poderes. Eles aguardaram o hasteamento da bandeira, que ocorre todos os dias em frente à sede do governo, para iniciar o ato.
Ativistas jogam tinta na entrada do Palácio do Planalto em referência a manchas de óleo
No local, imagens retrataram o desmatamento e as queimadas que atingem a Amazônia. As fotos alternavam com frases como "Brasil manchado de óleo" e "Pátria queimada Brasil".
Queimadas
Ativistas do Greenpeace reuniram galhos queimados na frente do Palácio do Planalto, em Brasília — Foto: Carolina Cruz/G1
Os manifestantes também empilharam galhos de árvores que restaram de incêndios ocorridos na Amazônia Legal. Os troncos foram amarrados nas cercas do Palácio do Planalto.
Seguranças da Presidência tentaram impedir a instalação, mas não conseguiram.
Crime ambiental?
Após o ato, a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística foi chamada para medir o espaço ocupado pela instalação montada pelos ativistas. Ao G1, a equipe técnica do DF Legal informou que o Greenpeace devem responder por "descarte irregular de resíduo em área pública".
A medição preliminar indicou que a instalação montada nesta quarta (23) pelos ativistas ocupou 4,30 metros quadrados. O valor a ser cobrado ainda será calculado e deve levar em conta o volume e o tipo de lixo.
De acordo com a Policia Militar, equipes vão analisar os tipos dos materiais usados no protesto. "Em princípio, houve a obstrução da via, tem a questão dos crimes de trânsito e aquele material, aquele líquido que foi lançado lá que a gente não sabe o que é ", disse o tenente Faleiros, que participou da abordagem.
Já, segundo o DF Legal, caso o líquido seja considerado tóxico, o grupo pode responder por crime ambiental. A diretora de campanhas do Greenpeace Brasil, Tica Minami, afirma, no entanto, que todo o material usado é orgânico.
"O líquido é uma mistura com óleo de amêndoas e maizena. Não é tóxico."
"O ato simboliza a destruição que a gente está vendo no patrimônio ambiental e deixamos lá como uma lembrança de que o governo precisa agir. Não faria sentido nenhum tirar depois", argumenta.
Os manifestantes levados à delegacia não quiseram falar com a imprensa. O advogado que representa o grupo, Bernardo Fenelon, afirmou que os ativistas não resistiram ao comando da PM. "Não houve abuso ou qualquer tipo de coerção".