“Quando eu vi o óleo, pensei em várias coisas. Na tristeza, no trabalho da minha mãe e em ajudar.” Essa declaração é de Everton Miguel dos Anjos, de 13 anos, fotografado em meio ao óleo que atingiu a Pedra do Xaréu, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. A imagem viralizou nas redes sociais e ganhou repercussão internacional como um símbolo do desastre ambiental no litoral brasileiro.
Além do Cabo, outras nove cidades pernambucanas tiveram praias manchadas pelo óleo no período entre 17 de outubro e esta sexta-feira (25):
Foto de terça-feira (22) mostra voluntários retirando óleo da Pedra do Xaréu, no Litoral Sul de Pernambuco — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
Trocando o material de limpeza das mesas do bar pelo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), Everton se integrou à força-tarefa montada às pressas para conter o óleo na Pedra do Xaréu. Já Ivaneide permaneceu em Itapuama.
“Eles [pessoas no local] deram bota, luva, mas serve até certo ponto. A luva é curta e a areia entra na bota, então só adianta se na área em que você estiver for pouco óleo para limpar”, disse a comerciante.
Imagem de segunda (21) mostra voluntários e equipes da prefeitura do Cabo trabalhando para retirar manchas de óleo de trecho entre as praias de Itapuama e Pedra do Xaréu — Foto: Pedro de Paula/Fotoarena via Estadão Conteúdo
Apesar da ajuda dada pelo filho, a comerciante sentiu medo ao vê-lo com a substância grudada no corpo. “Ele quis ajudar, eu deixei. Quando eu vi que ele estava coberto de óleo, reclamei com ele porque fiquei preocupada. Graças a Deus ele não teve nada”, afirmou Ivaneide.
Essa foi a última vez que mãe e filho estiveram na praia. “Não fomos depois por causa da passagem [de ônibus]”, disse Ivaneide, que mora com Everton, o esposo, dois filhos de 18 e 20 anos, a nora e um neto em uma casa localizada em Ponte dos Carvalhos, no Cabo.
Para o sábado (26), dia em que o bar normalmente abre, não há previsão de funcionamento. “Vamos só no domingo, tentar tirar o lucro com água, água de coco, refrigerante, batata frita e calabresa”, contou a mãe do adolescente, diante das recomendações de pesquisadores para suspensão de consumo dos frutos do mar que ela costuma vender.
“O pessoal não vai mais querer marisco, caranguejo, peixe, sururu e caldinho de polvo. Foi um desespero e ainda está sendo. É muito triste, mas a gente tem que se virar de alguma forma. Só Deus é quem vai nos dar uma luz”, declarou, na esperança de que seu sustento não volte a ser manchado pelo óleo.
Ministro entra em praia atingida
Ministro do Turismo [de azul escuro] molha os pés em Muro Alto, em Ipojuca, uma das localidades atingidas por óleo no Nordeste — Foto: Reprodução/TV Globo
Durante visita à praia de Muro Alto, em Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco, na manhã desta sexta-feira (25), o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, afirmou que “as praias do Nordeste estão aptas aos banhos dos turistas”. No local, ele chegou a entrar na água e a molhar os pés.
Ainda no estado, ele anunciou que o governo federal vai disponibilizar R$ 200 milhões do Fundo Geral do Turismo (Fungetur) para ajudar pequenos empresários prejudicados pelo desastre, através de linhas de crédito.
Amostras de água de praias pernambucanas atingidas pelo óleo foram coletadas pelo governo estadual na quinta-feira (24). O objetivo da análise é verificar se há hidrocarbonetos, compostos orgânicos presentes no petróleo e que, em grandes concentrações, podem causar danos à saúde.
A previsão é de que os resultados sejam divulgados em novembro. Enquanto isso, a recomendação de pesquisadores é que, nos locais onde a praia já foi limpa, o banho de mar está liberado, mas, nos locais onde ainda existe óleo, as pessoas devem evitar entrar na água.
Voluntários relatam intoxicação
Pessoas que ajudaram a recolher o óleo encontrado nas praias pernambucanas relataram ter sentido diversos sintomas após o contato com a substância.
Em São José da Coroa Grande, em situação de emergência reconhecida pelo governo federal na quarta (23), ao menos 17 foram socorridas a um hospital do município, com dor de cabeça, enjoo, vômitos, erupções e pontos vermelhos na pele. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, há outros dois casos relatados em Ipojuca, no Grande Recife.