Atacante do Brescia dá bico na bola em direção da arquibancada, é convencido a continuar e, depois de interrupção por quatro minutos, brilha aos 40 com chute de primeira no ângulo
Por GloboEsporte.com — Verona, Itália.
Um dos maiores expoentes do combate ao racismo na Itália sofreu de novo com o preconceito neste domingo. E reagiu. O atacante Balotelli, do Bescia, ouviu coros da torcida do Hellas Verona quando protegia a bola perto da bandeirinha de escanteio e a chutou em direção da arquibancada, aos nove minutos do segundo tempo, quando o time anfitrião tinha acabado de abrir o placar, gol de Eddy Salcedo, aos cinco. Ato contínuo, saiu de campo, interpelado por alguns adversários ainda sem entenderem sua reação, e acabou convencido pelos companheiros a permanecer. Depois da partida, o técnico dos donos da casa, o croata Ivan Juric, questionou e disse que eram apenas vaias e provocações normais
Jogadores do Brescia e do Hellas Verona tentam convencer Balotelli a ficar em campo depois de reação a insultos racistas — Foto: EFE/EPA/SIMONE VENEZIA
O árbitro Maurizio Mariani chegou a mostrar o cartão amarelo para Balotelli, por achar que tinha sido um ato de indisciplina, mas retirou a punição depois que percebeu o que realmente estava acontecendo. Interrompeu o jogo por cerca de quatro minutos, até que o sistema de som do estádio Marcantonio Bentegodi, em Verona, alertasse para que os insultos parassem, como está previsto na orientação da Fifa e foi feito anteriormente no Campeonato Italiano desta temporada, quando o brasileiro Dalbert, da Fiorentina, também foi vítima, em partida contra a Atalanta.
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Árbitro Maurizio Mariani interrompe Hellas Verona x Brescia depois de reação de Balotelli a insultos racistas — Foto: EFE/EPA/SIMONE VENEZIA
A partida foi reiniciada, com outro tipo de coro, do nome do atacante, com um tanto de provocação também, como tinha sido antes do apito inicial. O Verona ampliou a vantagem, aos 36, com Pessina, mas quem continuou a ser o protagonista da partida foi Balotelli. Fez um golaço, aos 40, chutando de primeira da meia-lua, no ângulo. Insuficiente para evitar a derrota por 2 a 1 - Matri, do Brescia, foi expulso depois do fim por reclamar de um pênalti não marcado nos acréscimos.
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Daniele Gastaldello conforta Balotelli depois de insultos racistas em Hellas Verona x Brescia — Foto: EFE/EPA/SIMONE VENEZIA
Foi o segundo gol de Balotelli em sua sexta partida pelo Brescia, em sua voltou para a Itália depois de três temporadas na França, no Nice, depois no Olympique de Marselha. Seu time atualmente está na zona de rebaixamento do Italiano, com sete pontos em 11 partidas.
- Tabela do Campeonato Italiano
Balotelli sai cabisbaixo do campo depois da derrota do Brescia para o Hellas Verona — Foto: EFE/EPA/Simone Venezia
Depois da partida, o técnico do Hellas Verona, o croata Ivan Juric, negou que a torcida de seu time tenha insultado Balotelli com coros racista. Para ele, o que houve foi provocação normal.
"Não tenho medo de dizer que hoje não havia nada: muita vaia e provocação a um grande jogador, mas nada mais"
- Sou croata e aqui ouvi muitos refrões ofensivos: "Cigano de m...". Porque a tendência na Itália é muito essa. Por que Balotelli reagiu assim? Pergunte a ele. Quando há coros racistas, eles me dão nojo e os condeno. Mas repito que hoje não havia nada, nem sequer um. Nós não dizemos nada. Quando isso acontece, eu digo, e mesmo que os meus torcedores façam isso, fico enojado e não tenho qualquer problema em admitir. Mas não foi isso. É uma mentira - disse Juric depois da partida em entrevista à rede italiana de televisão Sky Sport.
Em post na rede social, um torcedor questiona Balotelli, afirmando que não havia coro racista. Só que, no meio do barulho da vaia, é possível ouvir sons fazendo referência a macaco.
Balotelli ouviu coros racistas? Ou o gênio queria que falassem dele?
Balotelli sai cabisbaixo do campo depois da derrota do Brescia para o Hellas Verona — Foto: EFE/EPA/Simone Venezia
Balotelli saiu do estádio sem dar entrevistas. Seus companheiros que estavam em campo confirmaram que ouviram insultos racistas direcionados ao atacante, e o técnico italiano Eugenio Corini tentou apaziguar os ânimos.
- Ainda não conversei com Balotelli. Disse que ouviu alguma coisa em um momento de muita empolgação da torcida. E depois disso, a provocação continuou. Ele foi muito bem. Afetado emocionalmente, continuou a jogar, apesar da dificuldade.
"Inútil continuar a falar do que aconteceu"
- Tudo correu bem antes e depois. Até nossos 1.600 torcedores que vieram nos pressionaram. Eu focaria na parte positiva do futebol - disse Corini.
Balotelli disputa a bola com Amir Rrahmani em Hellas Verona x Brescia — Foto: EFE/EPA/FILIPPO VENEZIA